terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Poupar «gastando» ou de como confundir o consumidor...


Tenho alguns temas, do tipo 'ódio de estimação', a que volto de forma recorrente, mas não consigo impedir de o fazer. E o consumo ou a forma habilidosa como se acena com a cenoura à frente dos burros que nós somos, é uma delas.
Por uma experiência recentíssima, voltei a pensar na acção maléfica que dá pelo nome de obsolescência programada. É coisa que tem cerca de 100 anos, mas actualmente está no auge sobretudo nas novas tecnologias claro. Quando ouvi a palavra obsolescência (?) a primeira vez achei que era nome de doença ou algo assim, senti logo que era coisa de alguma bruxa má. Claro que era. Quando eu era criança e se vivia no pós-guerra, essa tal obsolescência ainda não tinha chegado a Portugal, e faziam-se coisas para durar. Uma coisa boa, de boa qualidade, era a que durava mais. Disparate! Se durasse muito como é que o fabricante vendia o novo, o que ia fabricando? Ná, ná, o produto - electrodoméstico sobretudo mas atinge tudo - tem de se estragar rápido e sobretudo não haver peças para o arranjar, ou até mesmo as peças serem do preço de um novo. Qualquer um de nós sabe que um aparelho que se compra agora vai ter uma 'esperança de vida' bem inferior ao semelhante que já tínhamos há 20 anos... É a obsolescência.
Mas há outra técnica de venda, muito interessante, que nos toma por parvos e infelizmente resulta: vender grandes quantidades com o pretexto de assim fica mais barato. Quando o conselho é «leve 2 e pague 1» ainda se vai percebendo - ainda que possamos pensar que se querem fazer 50% de desconto bastava vender 1 por metade do preço. Mas muitas vezes a quantidade que impingem é enorme e de  pouco consumo ou com risco de se estragar. Não se vê «leve 2 dúzias de rolo de papel higiénico e pague 1» a não ser que seja uma grande porcaria de papel, invendável... Afinal aquilo é sempre preciso e não se estraga. Mas sacos com fruta, caixas com queijos, iogurtes, mesmo no prazo, o negócio é para o vendedor: quem compra não poupa nada, quando chegar às últimas peças já está tudo podre, o preço afinal foi... normal.
Voltando à minha infância onde de facto se poupava e aproveitava tudo, porque um-dia-pode-dar-jeito, havia na caixa de costura, por exemplo, umas caixinhas de botões onde se guardavam os já usados que voltavam a servir, ou fechos-éclair que se podiam aproveitar para outras saias ou vestidos... Ontem quis comprar um para arranjar uma coisa e entrei numa loja. Não, não era uma retrosaria, isso já desapareceu (quase) era uma loja que vendia tudo. E lá encontrei, pendurado, uma embalagem de fechos-éclair do tamanho que precisava. Embalagem?! Sim, embalagem com 4 fechos de cores diferentes. O conjunto era barato, pois era. Mas que raio ia fazer com as 3 cores de que não precisava? Talvez um dia precisasse??
E quando se vende 3 pares de óculos graduados iguais?  Para que quero eu mais 2 pares de óculos, a não ser que seja uma cabeça no ar que os perca? (aliás se perder 2 também perco seis ou sete....)
A palavra de ordem é vender! E o cliente vai acreditar que poupa embora até gaste mais.
Seremos assim tão parvos?

Eram uns belos pêssegos, não eram?

Cereja

1 comentário:

FJ disse...

Resposta: Parece que somos ...fj