domingo, 13 de julho de 2014

Abrir portas abertas

( Ressalvo, antes de começar a escrever, que o artigo? reportagem? que motiva o que vou dizer a seguir é pouco claro e pode estar a referir uma realidade de última hora que eu desconheça )
Eu trabalhei durante anos, muitos, como técnica na função pública. O que quer dizer que fui tendo também muitos, creio que dezenas, de variados chefes. Havia os chefes que iam fazendo a sua carreira connosco, conhecendo bem o que-a-casa-gastava e os chefes que nos caiam de para-quedas sempre que o governo mudava. Porque quando muda um governo, para além do topo da pirâmide - ministros, secretários de Estado, etc - também se altera o meio da pirâmide por causa da «confiança política», e chegam-nos, destacados dos lugares que ocupavam, uns senhores que vêm sempre cheios de energia e de grandes ideias. E, invariavelmente, eram ideias que já eram conhecidas por nós, eles é que não sabiam isso.
Li ontem uma notícia curiosa, subdividida em duas: lugares em creches e amas que me interessou por ter trabalhado nessa área. A primeira parte, a que se refere ao aumento de lugares em creches, deixa-me satisfeita, é sempre bom haver mais lugares, mas gostava de saber como é a proposta. Dizer que «a alteração legislativa permitiu a maximização de resposta» pode fazer-nos pensar que duplicam as crianças por sala com a mesma educadora... mas isto é um pensamento malévolo, não acredito que o façam.
Adiante.
Sobre as amas, eu conheço muito bem o que se fazia há uns 10 / 15 anos. Era uma resposta de qualidade e uma profissão respeitável. Existiam amas sob supervisão da Segurança Social ou de algumas Misericórdias ou IPSS, e amas 'privadas' com licença para exercerem a actividade. Tinham um sindicato muito activo. [claro que se sabia da existência de 'amas selvagens', clandestinas, que fugiam ao controlo, mas isso existe em todas as profissões desde que haja clientes] O ministro diz ali que «terão de ter formação específica e só poderão receber até quatro crianças em condições de segurança e qualidade adequadas» o que me deixa de boca aberta porque era assim dantes e se agora a profissão «vai existindo sem enquadramento e num vazio legal» é porque se andou muito para trás!!! Como é que se criou esse vazio?
Ora oiçam: 'no meu tempo' as amas que conhecia (da Segurança Social) candidatavam-se e eram entrevistadas por uma assistente social e uma psicóloga. Visitava-se a casa para se conhecer o ambiente e a sua família. Escolhiam-se as crianças, 4 no máximo, tentando escalar as idades para se assemelhar mais a uma família, e levando em conta as personalidades das amas e das mães. Tinham uma acção de formação inicial, e outra a meio do ano. Cada grupo de amas tinha uma reunião em conjunto com os técnicos que as apoiavam uma vez por mês. Eram visitadas de um modo aleatório para se ter uma noção real dos problemas possíveis. Recebiam por recibo verde através da segurança social que por sua vez recebia das famílias conforme o seu rendimento.
Mas as que não se enquadravam na Segurança Social (essas do vazio legal, parece) também tinham a actividade regulada, sem estes apoios dos técnicos é certo, mas cumpriam normas para poderem receber as crianças. Perdeu-se isso? Ou estamos agora a abrir uma porta que há anos está aberta?!




Cereja

2 comentários:

sem-mick disse...

Gosto do título...
É exactamente «abrir portas [que já estão] abertas» sim senhora. Também se usava inaugurar várias vezes o mesmo monumento, não é? Sempre parece que há obra feita!!!!
Um abraço Cerejinha :)

cereja disse...

Olá sem-nick! Tens cumprido a promessa de passar mais aqui pelo Cerejas...
Essa coisa irrita-me um pouco porque conhecia bastante bem o meio e os seus problemas. E para se ser ama tinha de se provar as suas capacidades, não era à balda. Não entendo o que quer dizer o Ministro.