segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Crianças e leituras

Na terça passada, a propósito de uma releitura do «Diário de Adrian Mole», deu-me para reflectir nas diferenças entre as adolescências, ou até as infâncias, a de há uns anos atrás e a dos nossos dias. São muitas essas diferenças e a minha veia de sociológa-de-algibeira ficou muito interessada nalguns aspectos. Por exemplo naquilo que se lia e se lê. A literatura para a infância não será assim muito antiga, mas tem já uns largos anos… Quando eu era criança lia os, para a época já antiquados, romances da Condessa de Ségur. Alguns insuportáveis, tipo «As Meninas Exemplares» que de tão exemplares eram umas parvalhonas a quem apetecia sacudir, mas também havia a Sofia com os seus desastres, etc. Era na tal Colecção Azul que se considerava adequada para educar as crianças. Foi aí que também li «A Princesinha» ou «O Pequeno Lord» onde meninos órfãos muito bonzinhos passavam por dificuldades e nos faziam chorar lágrimas gordas pela cara abaixo. Porque é claro que o Bem vence sempre.
Depois mais crescidos íamos lendo a ‘Biblioteca dos Rapazes’ ou ‘a Biblioteca das Raparigas’. Clássicos como ‘A Flecha Negra, A Ilha do Tesouro', ‘O Último Moicano’, para não falar na emoção da Capa-e-Espada, nos Dumas etc. As raparigas liam mais «As Mulherzinhas» e os romances rosa da Berthe Bernage – as Brigittes todas e os 5 volumes do Romance de Isabel. Tinham nascido depois da guerra e ainda se sentiam esses valores.
Anos mais tarde foi a vez de colecções educativas do tipo de «Uma Aventura», ou «Clube das Chaves», onde as protagonistas eram crianças espertas e desembaraçadas, vivendo em famílias normais, passando por histórias plausíveis. Tiveram bastante sucesso.
Os anos passaram e os modelos também. Vemos que os monstros que antigamente se usavam para assustar e trazer uma pedrinha de sal às histórias infantis, são agora os heróis e os modelos. O monstro deixou de meter medo, serve para rir. Inicialmente achei interessante, seria ensinar que o-que-é-diferente-pode-ser-bom e a integração da diferença é positivo, mas não quando só os monstros é que são bons! Os vampiros, lobisomens, etc, eram figuras maléficas. Passaram a ser integrados e, mais do que isso, a protagonistas. As histórias passam a ser vistas do seu ponto de vista. Huuummm….
Há muito pouco tempo falaram-me de uma menina que andava a desatinar com medo da morte, pesadelos, angústias. Os livros que lia eram da colecção Cherub. Por aquilo que percebi, cherub quer dizer 'querubim', o símbolo é um anjinho de metralhadora porque são «o braço juvenil dos serviços secretos britânicos». A sério. Meninos treinados para combaterem terroristas ou traficantes internacionais passando por situações arrepiantes.  segundo a própria publicidade. Mas o mais chocante é que estes ‘agentes secretos’ não têm família. No que li todo não há pai, e a mãe, bêbada, morre no 1º capítulo, num outro os pais morreram os dois e há apenas uma avó com ,Alzheimer num lar...
É esta a literatura que estamos a oferecer aos nossos filhos?!








Pé-de-Cereja

7 comentários:

Joaninha disse...

Não conhecia. Como agora não tenho filhos nem sobrinhos em idade apropriada, ando um tanto a leste...
Mas os linksque deixaste são saborosos. Uns por bem (os de antigamente) e estes actuais dão que pensar!

Joaninha disse...

(e agora vou ao post debaixo porque quando o li os comentários não abriam!!!)

Anónimo disse...

A velhinha Biblioteca dos rapazes!!!
E o Sandokan? Ganda pirata!
......
Estes de agora não conheço. oiço falar para aí de vampiros e coisa e tal... Bah!

mary disse...

É uma série um bocado parva, mas não é tanto como parece.
Para mim, o mais grave é onde estás a por o dedo - desaparecem os valores familiares totalmente.
Nem 8 como no tempo da Condessa de Segur - nem 80!

mary disse...

Ainda aqui volto para dizer que eu continuo a visitar o blog, tenho é preguiça para abrir a caixa de comentários :) :)

cereja disse...

Caríssimos, eu de uma ponta à outra só li um. Chamava-se O Recruta. Mas pela amostra devem ser todos mais ou menos parecidos.
Sou franca e a inexistência de família (nem é preciso ser tradicional....) impressiona-me um pouco.

cereja disse...

Queria subscrever o que disse a Mary (olá Mary!!! sejas bem aparecida de novo) é o que eu sinto: nem o 8 nem o 80! É que a Família para mim nem é sagrada nem demoníaca. E faz falta a uma criança, desculpem lá!