quarta-feira, 25 de maio de 2011

Malhar em ferro frio II

Queria continuar na linha do post que escrevi ontem, que até pode ser mal entendido. É claro que é justíssimo desejar coisas bonitas, desejar mais conforto, desejar uma vida mais simplificada. O perigo é quando esses desejos conduzem ao inverso do que se quer - dívidas e angústia.
Não gosto muito nada de apontar o dedo a 'culpados' (já bem chega o que se vê nos debates), mas o certo é que pode haver uma responsabilidade acrescida das entidades que estimulam o consumo.
Porque as há!
Há alguns anos, lembro-me de ter visto numa campanha publicitária qualquer, uma frase do tipo «Querer é Poder». Comecei por gostar. É bom pensar-se que Querer é Poder, estimula a nossa vontade, a nossa energia, é um bom lema. Depois percebi que aquilo era parte de uma campanha de um Banco da nossa praça, incentivando o apelo ao crédito. Nós podemos ter tudo o que quisermos agora, depois mais tarde logo se vê como se paga… Uma magia qualquer vai resolver isso. Aproveitemos o presente.
Esta facilidade, cruzada com o sentimento que muitos de nós temos se-o-meu-amigo-tem-eu-também-quero, resulta mal. Há um desejo permanente de Ter, tão generalizado que se olha de lado como anormal quem não entra nesse jogo. E, para agravar ainda mais, os jogos do mercado trazem uma situação impensável no tempo dos meus pais ou avós: quando algo se avaria, é mais difícil e caro arranjar do que comprar novo!
Tudo isto faz com que as lixeiras estejam cheias de produtos aparentemente em bom estado e o consumidor seja incentivado constantemente a novas compras.
E para além disso a publicidade é uma máquina feroz. A minha avó limpava o pó com… um pano do pó. Hoje em dia qualquer mulher a dias exige um líquido ou spay para limpar os móveis encerados, outro para os móveis envernizados, outro para móveis em bambu, ou de metal, outro para as superfícies em acrílico, outro para as louças, outro para …. E panos e paninhos para isto e para aquilo. Lembro-me bem de ver dar brilho aos vidros com jornais velhos. Hoje há panos especiais.
Evidentemente que isto é apenas um exemplo, mas verdadeiro como sabem.
Será que precisamos mesmo de tanta coisa? Ou estamos a ser vítimas da dominadora e eficiente publicidade?...




Pé-de-Cereja

4 comentários:

Mary disse...

Ando um tanto ausente, dantes podíamos acertar o relógio por ti, agora és mais irregular e eu perco-me :)
.....
Faz-me muita impressão aquilo que apontas aqui - ser mais barato é fácil comprar um novo do que arranjar um que se avariou. É contra tudo aquilo que aprendemos em criança.
E como disseste (nem sei se neste post se no de ontem, vemos hoje em dia deitar-se coisas para o lixo porque se romperam!!! Já não se sabe coser. Há lojas (!!!!!) com costureiras que cosem, mas por uns preços que nem as cerzideiras de antigamente praticavam! Pedem 5 euros (um conto de reis!) por fazer uma bainha, por exemplo. Um trabalho que se faz num quarto de hora. Portanto quando alguma coisa se rompe muito simplesmente deita-se para o lixo!

cereja disse...

Faz-se num quarto de hora, tu e eu que aprendemos a fazer bainhas, (mesmo que se odiasse costurar, a malta aprendia) mas o certo é que hoje em dia não sabem mesmo!
[fiquei com a ideia pelo teu comentário para um post sobre.... caixas de costura!]

ZORRO disse...

(não encontro a minha ligação via google)
Este post e o de baixo estão muito interligados. E muito mais nos ocorre dizer, não é? A gente sabe que a tua perspectiva não é «dantes-é-que-era-bom-que-felizes-nós-éramos» mas eu também penso que talvez nem 8 nem 80.
É bom desejarmos mais e melhor. O estilo de vida actual é bem mais confortável e fácil do que o dos nossos avós e, tenho a certeza de que nessa altura também havia quem só se preocupasse com o tal TER para além de tudo. E com as aparências, coisa que não referes mas tem muita importância.
Mas a verdade é que seria bom que se cultivasse pelo menos daqui em diante, uma maior contenção dos gastos do que não fosse mesmo importante.

cereja disse...

O complicado, Zorro, é que se calhar o «importante» para uns não o será para outros, não é?...
Mas a tal frase que 'pegou' por causa da publicidade «poderia viver sem ****?» talvez possa ser recuperada. Há muitas coisas sem as quais poderemos viver e sem grande dificuldade. Aliás como é sabido, com a perca do poder de compra, muitas delas até já andamos a viver sem as ter. E, enfim, sobrevivemos!