terça-feira, 5 de junho de 2018

A questão da solidão

Na sequência de uma uma notícia triste e outra divertida, uma triste sobre solidão, por todo o mundo mas sobretudo em Portugal  e outra que nos faz rir, sobre as conversas dos portugueses com Deus, uma amiga minha escreveu no facebook «com a quantidade de idosos isolados ainda bem que falam com Deus, senão quem o faria...?» recordei uma situação que acompanho de perto e encaixa nesta questão tão séria e grave.
Numa aldeia onde costumo passar grandes períodos de tempo, vivia um casal já idoso com quem mantinha-mos uma excelente relação. Com a família reduzida, tinham casado bastante tarde e não tinham filhos, e ainda havia irmãos mas de quem estavam muito afastados, ou por viverem bastante longe ou por questões de partilhas com o conseguente corte de ralações. Por serem muito afáveis, sobretudo ele que era muito bondoso e prestável, viviam bem com a vizinhança. Mas a idade, fazia-se sentir, e já tinham ultrapassado os 90 anos com diversos problemas de saúde próprios não só dos muitos anos como de uma vida dura de trabalho. Contudo amparavam-se um ao outro, já vendo e ouvindo muito mal, e com dificuldade de mobilidade, mas podia-se dizer que vivia um para o outro, e eu reconheço que os via sempre como casal, separados era quase como uma separação de siameses...
Contudo, aconteceu o que se temia e o marido que se queixava menos foi o que foi primeiro.
Nem é necessário descrever o estado em que ficou a viúva! Perdeu mais de metade de si mesma. O desgosto, a revolta, o medo, a depressão, eram permanentes. Uma sobrinha que vivia muito distante tentou sugerir-lhe um lar, o que foi naturalmente recusado. Toda a sua vida e recordações estava entre aquelas paredes. Mas continuava a chorar e a queixar-se um ano e meio depois.
Uma sua vizinha de conversa comigo, já impaciente, dizia-me "Ela deve perceber que não é só ela! Fala como se fosse a única pessoa que perdeu o marido, e tantos de nós passámos já por isso!» E citou-me outra pessoa que tinha perdido o marido e ficado com 2 filhos, adultos agora e também com filhos. Ora dessa comparação faltava o âmago da questão que era, para mim, a solidão!
O que estava subjacente na queixa da velhinha de 90 e tal anos, era o sentir-se tão sozinha!. O caso da outra vizinha, além de na altura ter 2 filhos que a preocupavam decerto mas eram uma enorme companhia, tinha 2 irmãos carinhosos que viviam perto, tinha pai e mãe, para além de imensos primos, afilhados etc. Exactamente o oposto.
E esta é mesmo uma «doença social» da actualidade. Que tem de ter cura!!! Tem de ter!

Cereja

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