sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

"Só a mim é que isto assusta?" Afinal não é.

Há muitos anos li um romance de Azimov na Colecção Argonauta, chamado, talvez (?), "A Ameaça dos Robots", história interessante. (eu achava muita graça à FC antiga, os primeiros romances que foram publicados na Argonauta eram muito giros, mas pela actual já não sinto o mesmo...) Lembro-me bem de se passava num planeta habitado por muito pouca gente. Por motivos que já não recordo, eles precisavam de tomar conta de áreas muito vastas e como eram poucos espalhavam-se por todo aquele mundo mantendo o contacto apenas virtualmente. Mas esse contacto era muito bom, para histórias imaginadas por quem nasceu na década de 20 era mesmo fabuloso! Eles estavam sempre a visitar-se por imagem tridimensional, almoçavam juntos (cada um no seu sítio, juntando a imagem da mesa), conversavam, jogavam, bebiam, até em grupos alargados (cada um na sua casa e na sua poltrona), etc. Depois deu-se um crime, aparentemente impossível porque para isso tinha de ter havido contacto directo, coisa que os deixava horrorizados.
Bem, ao ler aquilo tínhamos a noção de que havia uma perturbação, uma patologia. Era essa a ideia.
Ocorreu-me essa memória por ter encontrado uma palavra: phubbing
Nem sabia que havia nome! Mas às vezes dar o nome à coisa, dá para a 'oficializar', ela passa a existir no real e não apenas na nossa imaginação. Porque isso do phubbing é a primeira fase da tal doença que existia no planeta do Azimov. Parece que a palavra vem de phone e snubbin, ou seja rejeição-por-quem-não-está-ao-telefone. A ligação virtual é tão forte e desejada, que a real passa para segundo plano. É o que se nota quando várias pessoas num grupo em vez de interagirem entre si, se divertem a olhar e escrever no telemóvel!
Tenho já notado que embora as pessoas da minha geração ainda prefiram dar um recado por telemóvel simplesmente falando, os mais jovens preferem escrever a mensagem. Mesmo que isso implique uma resposta também escrita, que por sua vez leve a outra mensagem que traz resposta, etc, etc.  Pode não ser prático. Lá isso... Nem se ouve a entoação que evita alguns mal-entendidos, mas por outro lado permite enviar bonecos  [ficava bem um smile aqui ]
Isto andava a preocupar-me. 
Achava que, psicologicamente, não era saudável porque evitava o contacto físico, directo, olhos nos olhos, parecia-me uma certa fobia. O que tinha começado por ser uma coisa excelente do ponto de vista do relacionamento porque facilitava o contacto com quem estava longe, perversamente tornava-se um impedimento ao relacionamento com quem... está perto!
Mas quando percebi que o fenómeno tinha nome, fiquei aliviada. Não sou só eu que ando "a imaginar coisas", há mesmo qualquer coisa que não está bem. E qual o antídoto???







Cereja

7 comentários:

saltapocinhas disse...

a segunda foto impressionou-me!
mas, se repararmos, há pessoas que fazem disparates só para partilhar no facebook...

cereja disse...

Exacto! Mas até há pouco tempo fazia um diagnóstico apressado achando que eram pessoas solitárias, afinal. Tinham muitos amigos virtuais por terem poucos verdadeiros, pensava eu. Mas agora parece-me que se desdenha dos verdadeiros/próximos para se passar aos virtuais/à distância.
Que raio!!!!

Joaninha disse...

Pois não. Não é só a ti que isso assusta. A "dependência do telemóvel" é geral, eu posso estar um dia sem o usar (até acontece muito) mas se me der conta de que saí e não o levei fico logo chateada.
Mas a verdade é que quando um grupo de pessoas se junta para jantar, ao lado da faca da carne e acima do guardanapo, tem de ficar o telemóvel.... E isso em qualquer idade!!!!! :(

sem-nick disse...

Joaninha, isso parece-me razoável. Já que podemos ser contactados, então facilitemos. Não é disso que a Emiele fala, o que é impressionante é não se dar importância a quem está ao nosso lado preferindo quem nos fala por telemóvel!!!

cereja disse...

Pois, meus caros, Joaninha e sem-nick, é evidente que eu também uso o tal telelé. Quase nem conheço que o não tenha, mesmo que o usem pouco. Mas uma coisa é usá-lo como um telefone, mesmo que seja um telefone que ande connosco para todo o lado. O relógio de pulso também anda connosco para todo o lado, e só se consulta de vez em quando ;)
Outra coisa é passar o seu uso à frente de tudo o resto! Corremos a atender quando ele toca, mais depressa do que a abrir a porta quando toca a campainha!!!!! Paramos tudo para atender um telemóvel. Confesso que eu faço isso, e que mesmo quando estou em casa o deixo ligado...
.............
Mas o que já é doença (seria falta de educação) é falar com conversas prolongadas mesmo quando estamos acompanhados e isso está sempre a acontecer com espanto meu. Acho que só nos espectáculos é que essa coisa se desliga!

Mary disse...

Uma coisa que de deixa desconfortável, para mim que sou de outra idade até acho que é falta de educação, é exactamente deixar-se o telemóvel ao pé e ligado quando se está a receber uma visita, por exemplo. Tenho pelo menos uma amiga, ( e já de 3ª idade como se diz ) que já quase evito visitar porque nunca se consegue levar uma conversa até ao fim!!!! De 5 em 5 minutos aquilo toca e ela resmunga "Oh que maçada, o que é que ele (ou ela) quer??!!!" mas vai atender. E depois fica na conversa... Retomamos o que se estava a dizer, e toca aquilo outra vez! Não consigo levar uma conversa até ao fim!!!!!

cereja disse...

Ora cá está, Mary (estou a encontrar antigos comentadores, uau!!) o teu testemunho é óptimo. Isso afinal é a fase inicial do tal phubbing! Começa-se assim. Mais uns tempinhos e ela nem te liga nenhuma :)))