terça-feira, 17 de setembro de 2013

Entoações

Quando se ensina uma criança a falar ela aprende uma determinada entoação. Tem de ser. É o que dá o colorido a uma língua e explica os sotaques regionais. Coisa subtil, um estrangeiro leva tempo ou nem consegue perceber essa diferença regional que para um nacional é evidente.
E, na mesma linha de reflexão, a criança por imitação fala com os outros tal como vai ouvindo falar à sua volta. É o normal, e ainda bem, porque tem de haver um modelo.
Por isso mesmo me impressiona e choca ouvir numa voz infantil uma resposta dita num tom de irritação e enfado tipo com-sete-pedras-na-mão
Não vou evocar a minha infância onde nunca me passaria pela cabeça usar aquele tom porque se podia pensar que isso era no tempo da rainha Vitória (passe o exagero...) mas declaro que nunca o meu filho falou assim, nem recordo filhos de amigos meus a usar tal tom. Ou seja quando se ensina a falar, ensina-se também o tom correcto a usar-se e em que circunstâncias. Claro que eu já respondi torto imensas vezes, não sou perfeita felizmente! Mas que eu tenha consciência evito dar respostas agressivas e, de um modo geral, elas só aparecem em resposta a frases que eu sinto como também agressivas. E transmiti esse modelo ao meu filho.
Mas há realmente pessoas que vivem em permanente agressividade verbal. Quando falam é aos gritos e em tom agressivo. Mesmo que as palavras que digam sejam perfeitamente inocentes se ditas noutro tom.
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Estava na bicha do supermercado quando vejo uma senhora de alguma idade que avançava para uma outra bicha com uma embalagem de qualquer produto. Sai-lhe ao caminho uma pirralha de seus 8/9 anos que lhe atira esta frase perfeitamente normal: "a mãe disse VERDE" ao que a senhora (avó?) respondeu calmamente "não há verde" tendo como resposta "há, há!" Este diálogo não tem absolutamente nada de especial, não é?  É perfeitamente normal porque eu não consigo aqui, graficamente, transmitir o tom em que a menina falava. As palavras eram balas que lhe saiam pela boca. A agressividade com que falava, até na segunda resposta (há, há!) é intransmissível por escrito - dizia a todos que a avó era uma pateta e ela não tinha paciência para patetices.
Só posso imaginar que aquele fosse o tom usado pelos pais da criança entre si. Ou não?
Fosse como fosse eu senti-me constrangida ao ouvir aquilo e, pelos olhares que vi à minha volta, não fui a única. E afinal custa tanto falar com um tom correcto como falar desta forma, é uma escolha e isso... ensina-se!



Cereja

2 comentários:

saltapocinhas disse...

ui, tocaste no meu ponto fraco...
criancinhas assim tiram-me do sério.
Já tive uma aluna que diziam que era assim com a avó, mas não tenho a certeza porque nunca presenciei.E comigo a miúda era um doce.

Joaninha disse...

Estou como a saltapocinhas, não tenho paciência para esse tipo de malcriações. Mas a verdade é que os putos são assim porque os deixam, e às vezes até acham graça!!!!!