segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Rendas ou redes (de pesca?)


Esta questão das rendas de casa é das situações mais desgraçadas onde parece que ninguém tem culpa e todos são prejudicados.

Não sei exactamente porquê, aí há uns 60 anos institui-se um sistema de ‘rendas limitadas’. Imagino que trouxesse alguns benefícios fiscais para os senhorios, e em contrapartida os inquilinos habitavam casas cuja renda era económica e fixa. E fixa ficava para sempre… Claro que se era agradável para o inquilino, que sabia com que despesa contava quer naquele ano quer nos seguintes, era mau para os senhorios porque não acompanhava a inflação e dentro de anos o que recebia nem chegava para as despesas de conservação. Mas era a lei. Evidentemente que quando a casa ficava desabitada, a nova renda era muito exagerada para prevenir essa situação e daí o surto de novas construções e o costume de se comprar a casa em vez de a alugar – em vez de uma renda muito alta, pagava-se uma prestação ao banco e a casa seria nossa.

Os anos foram passando e ninguém mexia nesta questão das casas alugadas. Finalmente aparece uma nova lei que cai que nem uma bomba! Os senhorios podem actualizar as rendas justificando com o valor da casa, e pedem quantias quase correspondentes às de casas novas. Passa uma onda de terror pelos inquilinos.

Num ano onde já não existem furos no cinto que se possam apertar, numa das piores situações económicas já vividas, é pedido uma fatia brutal do orçamento familiar a pessoas que vivem há dezenas de anos em locais onde até afectivamente será uma dor ter de sair. Eu deixei lá no facebook um desabafo, mas repito-o aqui: estou em pânico!

Já calculava e aceitava ter a renda aumentada. Era justo. Mas numa altura em que avalio cada cêntimo que gasto, onde reduzi as minhas despesas ao absolutamente essencial,  em que andava com o credo na boca desejando que a birra da máquina de lavar fosse apenas uma birra porque era uma catástrofe a compra de uma nova, sou avisada de que daqui para a frente todos os meses vou ter de "comprar uma máquina de lavar nova a pronto".

Todos os meses.

 Não é uma despesa, difícil mas episódica, é sempre.

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Já tinha escrito isto quando vi que a grande manchete do Correio da Manhã era sobre este tema. Estou muito acompanhada neste caso, mas... a lei existe. Que tem de haver justiça para os senhorios, não se discute, mas cortar-se de repente sem ser de um modo gradual, os já pequenos rendimentos de uma família é de ficar em pânico.
S.O.S. 
E não se pode pedir 'chamem a polícia'...

Pé-de-cereja
 

2 comentários:

Joaninha disse...

Claro que andam à pesca, mas se calhar dá para o torto. Como disse "o outro" se a CORDA ESTICA DEMAIS REBENTA, né?...
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Foi muito bem visto do teu lado dares a imagem de uma compra avultada, que pode ser difícil fazer uma vez (e por isso se paga muitas vezes a prestações) ter de se passar a fazer todos os meses! Essa da máquina da roupa, ou uma TV, ou o ar condicionado, coisas de centenas de euros mas que só se fazem uma vez... E a electricidade, água, gás, telefone, podemos gastar menos quantidade - embora haja limites ! e o mesmo na comida. Mas a despesa da renda de casa (ou o pagamento ao Banco) é sempre, todos os meses, e mais nada!

cereja disse...

Oh Joaninha, a imagem da máquina não foi só literária, foi bastante a sério porque realmente a minha parece estar a dar o último suspiro e ando preocupada com isso... :D
Mas dizes o mesmo que eu penso - há coisas que se podem reduzir, gastar menos electricidade, menos água, temos receitas para isso tudo. Mas como é que se gasta menos renda de casa?...