terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Embalagens, truques, e o comércio tradicional.

Quando eu era criança quase não havia produtos embalados. Tal como não havia o «pronto a» (vestir, comer, consumir...) que, imagino eu, nasceu do desejo ou gosto de velocidade da vida actual.  
Lembro-me bem ainda de ir comprar manteiga e o merceeiro retirar com uma colher de pau uma porção dela e atirá-la para um papel vegetal em cima da balança. Ou os ovos. O sr. Antunes abria um cartucho de papel pardo e metia, um a um, os ovos que nós queríamos. E os outros produtos, arroz, farinha, açúcar, eram pesados à nossa frente em cartuchos de papel pardo ou papel branco quando eram "produtos finos". O azeite, esse, passava para a garrafa lavada que os fregueses levavam através de uma geringonça com um êmbolo que me fascinava. E por aí fóra. Comprado em embalagens as conservas - sardinhas, atum, e pouco mais. E na drogaria a mesma coisa. E no lugar de hortaliça também.
E isto foi em Lisboa, é verdade, mas há dezenas de anos.
A pouco e pouco por uma questão de higiene, e para facilitar a rapidez da compra tudo isso passou a vir embalado do fornecedor. Gastam-se quilos e quilos e quilos de embalagens. É engraçado ver a campanha contra os sacos de plástico esquecendo que dentro de cada um desses sacos vai sempre muito mais plástico!
Ultimamente tenho sentido uma embirração especial contra as "embalagens enganadoras". Muitos supermercados apresentam carne, peixe, legumes, já embalados de uma forma artística e com preços atraentes por parecerem bastante baixos. [digo de uma forma artística porque naturalmente os defeitos do produto estão na parte que o consumidor não vê...] E são enganadores porque o preço ao quilo vem sempre em letras muito pequeninas, temos de por óculos para as vermos, e o que se vê em números gigantes corresponde a meio quilo, ou 400 gr, ou até a 350! Temos de fazer rápidas contas de cabeça para ver quanto é que de facto custam aquelas 3 postas de peixe ou as 4 costeletas.
E por isso voltei definitivamente, a nível de peixe, carne, ou legumes, ao comércio do meu bairro onde pesam o que quero à minha frente e ainda me perguntam com sorriso se quero que tirem a pele ao frango. É que há ganâncias que se viram contra os gananciosos, e o truque das coisas já-embaladas-para-poupar-tempo começa a não funcionar num país de desempregados onde o tempo está muito barato. 
E tanto melhor para os Srs Antunes da actualidade.



Pé-de-Cereja
 

4 comentários:

Johnny disse...

Achei curioso o texto! Mas o pronto-a-comer só apareceu por volta de meados dos anos 90. Ainda era criança (anos 80) e não havia de todo. :)

cereja disse...

Tens razão, esta comida que hoje se compra congelada e pré-fabricada é coisa bem moderna.
Mas o que eu chamava a atenção até é para o que se passava muuuitos anos antes, no tempo dos teus avós e bisavós, quando uma casa de família era uma minúscula empresa que fazia tudo, de vestuário e alimentação. Pouquíssimas coisas se «compravam feitas» nem tal passava pela cabeça de ninguém...

saltapocinhas disse...

é raríssimo comprar seja o que for embalado (a não ser arroz, açúcar...)
compro a carne no talho, o peixe no peixeiro, a fruta e os legumes na praça ou diretamente aos produtores, à porta das suas casas.
vantagens da província... :)

cereja disse...

Olá Saltapocinhas!!!! Só hoje voltei ao blog e nem reparei que tinhas passado por cá. Ando tãããão preguiçosa!
....................
Quando estou na casita que uso aos fins-de-semana sou tal e qual como tu. Aliás o talho daquela vila é excelente, são se uma enorme simpatia. E os legumes e fruta escolho os que quero e compro apenas aquilo que escolho. Em Lisboa vou a um supermercado tipo 'hiper' uma vez por mês comprar aquilo que se pode comprar de uma só vez - o leite para o mês todo, manteiga, margarina, queijo, azeite, arroz, massa, açúcar, enlatados, café, chá, vinho, congelados, detergentes e produtos de limpeza, etc. Ou seja coisas muito pesadas que depois eles acarretam os 3 andares sem elevador da minha casa :))) E este super, diz a Deco e eu já achava, é um pouco mais barato. No resto de mês tenho de ir comprando a fruta, os legumes, o pão, e aí é que entrava o Pingo Doce, ou o Dia, ou o lidl, porque aparentemente era mais barato. Contudo é aí que aparecem as 'armadilha' de que falo. certas coisas parecem baratas porque não se referencia o quilo e às tantas já nem sei o que estou a pagar.
A província é magnífica, saltapocinhas!!!!!!!!