quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Volto sempre ao mesmo...

... porque a velha questão está cá!
Ando cansada de ouvir dizer, por todo o lado e em todos os tons, que há para aí uma deficiência genética (só pode ser!)  que leva a que os portugueses sejam uma corja de preguiçosos que não querem é trabalhar. Aliás essa imagem estereotipada, se nos atinge particularmente, é mais abrangente do que isso porque se estende a todos os povos latinos, não apenas do sul da Europa mas também do sul da América. A imagem do sul-americano mexicano é o tipo que só quer é dormir a sesta com o seu típico chapéu a tapar-lhe a cara para dormir mais sossegado, não é? A típica cigarra que canta quando devia trabalhar, ao invés da diligente formiguinha dos diversos 'nortes' que se esfalfa de manhã à noite, diligente, previdente, a pensar na penúria do Inverno...
Claro que esta é a perspectiva das formigas.
E também é verdade que uma fábula é isso mesmo - uma história. Se um investigador social se lembrasse de experimentar transplantar uma 'cigarra' para o esquema do formigueiro ficaria surpreendido de a ver a trabalhar mais do que as formigas que lá viviam... É que afinal não será assim tão genético! É capaz de ter a ver era com as condições em que está organizado o trabalho lá no formigueiro.
Voltando ao mundo real e à nossa terra, mais uma vez se verifica que afinal trabalha-se muito em Portugal mas produz-se pouco, coisa que deita por terra essa fábula da cantoria.
Ná, podem aumentar indefinidamente as horas de trabalho que não aumentam a produção, talvez muito pelo contrário. E creio que pelo contrário, porque com o cansaço e desmotivação não há produção que aumente. É a quadratura do círculo: pretender-se benefícios do Primeiro Mundo através de condições de trabalho do Terceiro.
E agora li para aí que se vai poder despedir quando o patrão achar que sim. Devo ter lido mal. Sem uma justificação muito fundamentada? Justifica-se a incompetência e erros da gestão com a desculpa de que o trabalhador é mau? É assim que nos tais países considerados evoluídos se faz? Umm... Não acho nada. A tal globalização está a funcionar de modo a nivelar por baixo a força do trabalho. A aumentar as desigualdades.
Mas o Mundo está a caminhar para onde?

* Só mais uma nota, sobre um aspecto particularmente chocante nesta coisa do trabalho, férias e feriados.
Quando inicialmente ouvi que o governo ia propor que «as pontes» fossem descontadas nos dias de férias, até sorri. Considerei que era um disparate, alguém que não sabia o que dizia. Durante toda a minha vida de trabalho, era esse o sistema que conhecia - um dia que se gozasse entre 2 feriados era um dia de férias. Significava sempre ter menos um (ou dois, ou três, aqueles que fossem) dias no bloco maior das férias. Todos sabíamos isso. Afinal, venho a perceber que o que se está a impor é que isso seja obrigatório. Eu até posso não querer essa 'ponte' mas se o patrão quiser fechar a casa eu não posso ir trabalhar e quando estiver no gozo das férias que desejo terei um dia a menos! É isto, ou terei entendido mal?!

Pé-de-Cereja

5 comentários:

Anónimo disse...

Retirado de um outro site:
«As empresas vão poder gerir 1/10 da vida dos trabalhadores por ano. Um mês de trabalho será quando os patrões quiserem, às horas que quiserem, sem retribuição adicional pelo prejuízo. Os dias de férias serão menos e as empresas podem marcar férias dos trabalhadores junto a "pontes" quando entenderem. Já os trabalhadores, se marcarem assim, perdem dois dias de salário. Horas extras pagas pela metade, o que com o banco de horas, quase acaba literalmente com pagamento em horas extra. Trabalhadores que se despeçam com justa causa têm direito a uma indemnização muito menor (portanto é mais vantajoso para empresa mesmo que não cumpra a lei)... e a UGT assinou com os patrões e governo de fanáticos.»

Joaninha disse...

Ando tão desanimada.
Mas TÃO desanimada!!!
Sabes que muitas vezes volto a ler as notícias a pensar que li mal, que não é isso que querem dizer.
A tua imagem tem uma leitura engraçada, mas não sei se foi no que pensaste (costumam ser de leitura fácil, mas desta vez tenho dúvidas...)
Pareceu-me que era uma crítica à organização do trabalho, afinal a famosa gestão. Meia dúzia de pessoas para apanhar uma maçã trabalhando com risco, quando bastava o investimento em pouco material (talvez uma vara... ) para a maçã cair e um trabalhador a recolher. Mas a verdade é que as outras macieiras (??) já estão completamente secas e sem terem fruta nenhuma. O que pode querer dizer que assim não se chega lá!

cereja disse...

Tens razão Joaninha, o desânimo é grande e agente nem sabe bem no que pode acreditar.
O «boneco» pode ler-se assim que era mais ou menos o que pensei. É uma imagem triste, mas toda a situação é tristíssima!

cereja disse...

Anónimo - Boa citação. Onde a leste?

Anónimo disse...

Parece que é de propósito: o dia em que não passo por cá é quando entra post!!! Como ficaste aqueles dias de pousio, deixei mais um :D
Esta história nunca é demais «voltar ao mesmo». Ando fartinho dessa conversa de que se trabalha pouco. Talvez se trabalhe mal, mas a quantidade é tanto ou mais do que nos outros países!!!