domingo, 21 de outubro de 2018

Valores

Sinto que vivo num mundo onde não me apetece viver.
Não pela ameaça de guerra como no passado, ainda recordo o fim da última guerra mundial, e desde então nunca deixou de haver guerra em qualquer parte do mundo. Assustador, horrível. Essa é a maior calamidade, todos o reconhecem. A resposta habitual das Miss Mundo à pergunta sobre o que mais desejam: a paz no mundo
Mas, no mundo actual, apareceu uma "arma" inesperada, venenosa, que alastra assustadoramente. Não podia ser usada enquanto a internet não fosse utilizada por quase toda a gente, pelo menos no primeiro mundo. Espalhar boatos sempre existiu, mas era uma técnica de âmbito reduzido, ia de boca a ouvido de um modo individual, poderia haver cartas anónimas que apanhassem mais gente, e evidentemente que uma calúnia dita a 20 pessoas que a passassem a outras 20 e sucessivamente ainda podia fazer estragos, mas sempre numa proporção relactivamente pequena. É certo que a imprensa perdeu muito crédito, no meu tempo ainda se dizia «é verdade! até veio no jornal!» e hoje essa ingenuidade já faz sorrir, mas há novas formas de comunicar.
E aqui entra a internet.
Não apenas as redes sociais onde cada um é livre de dizer o que lhe der na real gana, mas também as caixas de comentários que os órgãos de comunicação social (jornais e tv) mantém abertos ao público, sem controlo.
Esta semana essa capacidade de comunicar com todos sem limite mostrou dois casos. Um, gravíssimo, a confirmação de que um candidato que se tem recusado a debater em público com os seus adversários, pôde enviar mensagens privadas a milhões de eleitores com calúnias gravíssimas e possivelmente ficar impune. É a net! O outro caso, minúsculo mas significativo, está ligado a quase um fait-divers, não chegou assim tanta gente, mas foi muito feio. Num programa de tv, sobre o fenómeno #metoo abordando a respeito pelo corpo do outro, um dos convidados chamando a atenção que esse respeito se ensina desde criança, afirma que nenhuma criança devia ser obrigada a aproximar-se e fazer festas se não quisesse. E acrescentou que mesmo um beijo ao avô, se fosse forçado, era uma violência. Acrescentou mais tarde, que até sabia de ofertas de prémios ou castigos para esse acto. Com serenidade podemos ler aqui a entrevista que depois deu.
Uma opinião da qual se pode discordar ou concordar. Que pode ser debatida. Aliás nesse programa Coimbra de Matos figura respeitável no mundo psi, disse o mesmo. Simplesmente o que transbordou pelas redes sociais onde eu soube disto, foi uma versão já inquinada, reduzida a dar um beijinho ao avôzinho é uma violência. Ui! Houve milhares, muitos milhares, de comentários, de piadas, fotos, um descontrolo de indignação. Já isso é parvoíce porque se critica algo que não foi dito. Mas mais grave, muito, muito mais grave, foi a devassa à vida íntima desse convidado, que pelos vistos é gay e os insultos mais reles de que foi vítima. Cheguei a ler por aí, que se tivesse vergonha na cara se devia suicidar! E estes danos são irreversíveis. Acredito que daqui a muitos anos ele ainda sinta como foi linchado na praça pública.

Cereja

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