quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A Canção é uma Arma A palavra é uma arma com pontaria

Chamou-me a atenção uma notícia do JN com este «interessante» título :Hungria apanha mais de 8 mil migrantes este fim de semana.
Algo me soou mal, muito mal. E, estúpida, não localizei de imediato porque é que aquele título me incomodou. Até que li um comentário no facebook que, com humor negro, falava d' «A Apanha de Migrantes» chamando a atenção para que o que se costuma apanhar são Malandros, Ladrões, Meliantes, Bandidos, Terroristas, Traficantes de Droga, Banqueiros Vigaristas, Políticos Corruptos, gente que comete delitos - e não é delito Fugir da Guerra ou sequer da Fome. ( o texto é dele, não consegui linkar o face...)
A verdade é que com esta frase, sem se dizer claramente se insinua muito. Falar em migrantes e não em refugiados é já uma posição. Desde o ínicio que se pretendeu misturar as águas e catalogar quem foge à morte e destruição no seu país, como uma espécie de oportunistas que decidem ir para um país rico para melhorar a sua qualidade de vida. E que fosse?! Parece legítimo procurar melhorar a nossa vida através do trabalho. Mas a verdade é que aquela gente não decidiu calculadamente emigrar para ter trabalho, ela foge a uma guerra que parece não ter fim. Se eles não são refugiados, então o que são refugiados?
E, depois a sobranceria com que se informa que «foram apanhados», só falta acrescentar 'em flagrante delito'! Foram apanhados?? 'Apanhados' a passar através de arame farpado com crianças ao colo!!! Imagino esta boa alma, há 70 anos, apontar um ser humano de estrela amarela ao peito a fugir de um comboio para Auschwitz, e gritar «vai ali um!».
A atitude do governo húngaro é chocante. Impedir a entrada em comboios a passageiros que até compraram bilhete? Têm medo que eles atravessem o país? Que lá queiram ficar? De qualquer modo a forma como as coisas são relatadas não é inocente, e o título em causa diz muito sobre o seu autor.






Cereja

4 comentários:

méri disse...

Pois! Todos os dias levamos com lavagens ao cérebro com esses tipo de linguagem.
As palavras substituem-se para as disfarçar. O discurso do governo é o mesmo : distorcer a realidade mudando vocábulos.
E assim dizem-nos que vão "devolver" não sei quantos por cento do que tiraram. Devolver???? e não há um único profissional da comunicação que desmonte isto? Um único comentador político que seja sério??? E este é só um exemplo entre tantos...

Ps: ontem no meu "reader" e blogues apareceu uma entrada tua sobre multibanco, mas que, afinal, não está pública - vim para comentar e não encontrei!

cereja disse...

Olá Méri!
(começando pelo fim, o post está já aqui em baixo; acontece que cliquei sm querer antes de estar acabado e depois voltei a passar para rascunho, deve ter sido isso que desarticulou as ligações)
Irrita-me imenso esse truque de usar palavras, por vezes verdadeiros eufemismos, para esconder a realidade. E ertos poderes...os senhores do governo devem ter todos uma cadeira do curso de ilusionista para dominar essa linguagem.
No caso dos jornalistas, que deviam ser isentos (?!) é revoltante fazrem o frete a c

cereja disse...

... o texto do meu comentário ficou todo numa salgalhada, mas acho que se lê! E a culpa não foi minha!!!!!

méri disse...

Dá para ler sim.
Isto da substituição de vocábulos ao longo do tempo tem que se lhe diga.
Estou a reler o José Gomes Ferreira, (não a poesia que nunca soube ler (!) só sei ouvir, de preferência "ouver") e é tão engraçado ler a sua terminologia e com sentido crítico logo acrescenta "agora diz-se...". E é bem verdade, dá para lembrar como já nos anos 70 e 80 a terminologia mudou. Mas nada do que se faz agora que é mudar o sentido das palavras. Enfim...