segunda-feira, 9 de junho de 2014

Mudei a casa (mas só eu)

Há na Sic-mulher um programa famoso, que toda a gente conhece, pelo menos de nome, e dura há muitos anos. Mesmo muitos anos. Como por vezes ando distraída até julguei que já tivesse acabado. No outro dia, em casa de uma amiga vi que ainda existia e depois disso já vi alguns 'episódios' interessantes e até penso falar aqui outra vez. Chama-se o programa «Querido, mudei a casa!»
É giro, interessante para quem aprecia decoração, e merece alguns elogios - que seguem dentro de instantes no próximo post.
Mas vi também um que me deixou a pensar... Talvez por gostar de ver o mundo pelos os olhos das crianças, ponho-me às vezes na pele delas.
Esteticamente estava tudo bem. Havia uma família que tinha uma casinha com um grande quintal muito maltratado, pediram ajuda à equipa do programa, e no final estava irreconhecível. Lindo! No início foi entrevistado do dono da casa: ia ser surpresa para a sua mulher que adorava o programa. Tratava-se de um casal ainda novo com dois filhos, menino e menina dos seus 5 / 6 anos. O jardim tinha um alpendre grande, uns canteiros com mal-me-queres, no meio uma grande palmeira, e viam-se várias cadeiras, uma mesa, muito pouca mobília para um espaço tão grande mas onde sobressaía um triciclo, uma piscina infantil insuflável, uma ou duas casinhas de bonecas uma cozinha de brincar, um escorrega e um baloiço. Ou seja, naquela casa as crianças tinham um belo espaço de brincadeiras.
O decorador explicou no fim que como o espaço era muito grande o tinha dividido em 6 zonas: no alpendre fez uma espécie de jardim-de-inverno, outra zona dedicou às refeições com uma grande mesa e meia dúzia de cadeiras, outra à leitura com caldeirões muito confortáveis, outra era 'solário' (?) com chaise-longues e um grande guarda-sol,  outra para convívio com os amigos com belas cadeiras e mesas de apoio, e até me escapa o que era a sexta zona, mas havia ainda uma sexta... Muitas plantas, arbustos, floreiras, e o chão com relva artificial muito verdinha.  Decoração em vários tons de azul, até as flores do jardim era azuis, muitos candeeiros de exterior, e um fartote de elementos decorativos - velas, taças, almofadas, bibelots de toda a ordem.
OK. Estão a ver onde quero chegar? Onde vão «arrumar» metade desta família, as duas crianças?! A apresentadora do programa ainda arriscou de passagem uma frase - "as crianças podem correr à vontade nesta relva". Ai é?! Podem correr. Naquelas 6 zonas não se  teve a ideia de reservar uma delas aos filhos? Quando tiraram a venda no final do programa o que teriam sentido aquelas crianças ao ver que nem sequer as suas próprias coisas estavam ali?...
O programa entretém, dá ideias de decoração, tem um público fiel. Um decorador, se calhar, não tem de saber psicologia. Mas, sensibilidade...? Para mim aquele foi um erro imperdoável.



Cereja



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