sexta-feira, 14 de março de 2014

Difícil. hein?



Dois pontos prévios:

a ) Por acaso nem sou daquelas pessoas que consideram à priori que "no nosso tempo" nós tínhamos mais vocabulário do que o que é usado pelos jovens na actualidade. A mim parece-me que... depende. Depende por um lado que grupos estamos a considerar, e depende também que vocabulário estamos a referir. É óbvio, por exemplo, que todos os termos e expressões técnicas e 'anglicizantes' são dominados com um enorme à vontade por qualquer jovem de hoje, o que não se encontra na minha geração.

b ) O segundo ponto tem a ver com o ensino. Considero que um bom professor tem de ser um bom comunicador. Se está a ensinar seja o que for, tem de o fazer de um modo a que a mensagem chegue ao seu alvo. A linguagem deve ser adequada. Adequada à idade dos alunos quando se está na escola, ou ao grau de conhecimentos que devem possuir noutros casos.

Depois destes dois avisos, conto a minha história:

Conheço um jovem que anda num grupo de teatro. Coisa simples, despretensiosa, um "curso-de-fim-de-tarde" onde vai 2 vezes por semana. Para a inscrição não lhe foi pedido nenhum grau académico específico. Nesse curso, para além da parte prática é-lhe pedido também uns estudos teóricos o que é de aplaudir, e a que ele se tem dedicado com muito interesse. Excelente, não é? Mas o texto base que lhe deram para o orientar estava a atrapalhá-lo e veio pedir-me ajuda porque estava desorientado com a maioria dos conceitos que lá encontrava. Queixou-se de que foi procurar um termo ao dicionário e era remetido para outro, que o remetia para outro e assim sucessivamente sem perceber nada! Estranhei um pouco, e fui ver qual o texto base. Eram algumas folhas intituladas "Questões Preliminares" e entendi que era mesmo uma iniciação.

Ora a tal palavra era semiotização que o remetia para semiótica. Eu sei (mais ou menos) o que é a semiótica e dei-lhe uma versão simplificada, mas continuando a olhar para o texto, pasmei. Depois da dita semiotização, vinha a transcodificação, e a transformabilidade. Falava de "uma autoria intersubjectiva" e de "um significante com vários significados e um significado através de vários significantes". Ele não devia esquecer "a importância dos paratextos" e ter cuidado com a "inflação dos aspectos paralinguísticos"; devia ver se o texto está conforme às didascálias, e estar atento à realidade proxémica, deíctica ou anafórica na sua movimentação e gestualidade. O espectáculo deve ser lido por sinédoque.

Alto!

Se aquilo se destina a fomentar o interesse por estudos de teatro, é um tiro completamente ao lado! Pelos vistos (ele foi atrás do texto, o que hoje em dia é fácil com as técnicas informáticas) aquilo é uma base de trabalho de um curso superior na Faculdade de Letras. Como disse, conheço o estudante e sei que o seu vocabulário é razoável. Mas não de forma a ler aquele texto. Ou seja o alvo do ensino está errado, portanto não ensina.

Uma pena.




Cereja

2 comentários:

méri disse...

!!!??? Realmente.
Gosto é da imagem: podiam pô-la no final do texto, como fizeste

cereja disse...

:)))
A imagem foi das que cacei na net, não podiam pô-la no texto que lá se ia o enfatuado do discurso... Obrigada pela visita!!!!