terça-feira, 18 de março de 2014

Bancos ou sofás?

Não se consegue imaginar a vida numa sociedade do 'primeiro mundo' sem os Bancos.
Sabemos que a sua existência tem apenas poucas centenas de anos, mas a importância na vida das sociedades é esmagadora. São negociantes onde a mercadoria é dinheiro, e como em qualquer negócio para resultar tem de se comprar barato e vender caro, portanto eles devem comprar dinheiro barato para o vender caro ou a coisa não funciona. Há umas centenas de anos, a moral vigente reprovava o empréstimo de dinheiro que se fazia muito discretamente por agiotas, termo que actualmente passou a insulto. Mas com o evoluir dos tempos as posições inverteram-se e o poder dominante passou para as suas mãos.
Um polvo que domina tudo e todos.
Para o cidadão comum que nasceu em meados do século passado, é fácil recordar o tempo onde havia poucos Bancos e a grande maioria das pessoas não precisava deles. Trabalhava, o patrão pagava-lhe com dinheiro, ele usava-o para pagar as suas necessidades diárias. Mais nada. Lá poderia haver uma herança, uns papeis de aforro, uma compra de maior valor que implicasse um intermediário entendido em finanças, mas isso era uma vez na vida. No dia a dia da classe média ou média baixa, essa necessidade não aparecia.
Quando eu comecei a trabalhar era paga em dinheiro. (Atenção, estou a falar de uma licenciada, a trabalhar para o Estado) Todos os meses vinha um senhor com uma pasta cheia de envelopes, e deixava na minha secretária o meu ordenado em notas. Era normal. Uns anos depois quiseram que eu abrisse conta num Banco para depositarem directamente esse salário, e achei prático - era mais seguro do que ter um cofre em casa que sempre podia ser assaltada.
Bem, ponhamos a máquina do tempo a andar depressa e cá estamos nos nossos dias. O dinheiro passou a ser virtual, de plástico. Não o vejo nem quando o recebo nem quando o gasto, e psicologicamente isso é péssimo porque altera a sua importância relativa. Mas por outro lado aumenta desmesuradamente a importância dos Bancos, uma espécie de big-brothers que conhecem bem a minha vida e decidem por ela.
E decidem de acordo com os seus interesses, como é óbvio, e com toda a frieza de quem não tem de levar em conta questões sociais. Foi chamada agora a atenção pelo Banco de Portugal que certos Bancos aumentaram a taxa cobrada aos muito pequenos depósitos e suspendem-na a quem tenha mais de 1.500 € .Está bem Está mal. Tão mal que até custa acreditar. Os Bancos têm trabalho com o dinheiro que as pessoas lá deixam? Devem ter, ou então o tal cofre na nossa casa servia para o mesmo. Mas o trabalho que têm com uma conta mensal de 500 € é superior ao que têm com uma conta mensal de 5.000 €? Expliquem-me porque não entendo. Compreendo que uma conta a prazo e outra à ordem tenham taxas diferentes, mas que em duas contas à ordem as taxas sejam inversamente proporcionais, ultrapassa-me. E sobretudo quando os pequenos depositantes são obrigados a ter essa conta para receberem o ordenado ou a pensão, não é uma opção de comodidade.
Bancos?! São sofás muito bem estofados para os banqueiros!

Cereja

4 comentários:

Joaninha disse...

Oh cerejinha, tens escrito tanta coisa e eu sem vir cá! Agora tenho aqui imenso para ler :D
Mas a culpa é tua (convém sempre culpabilizar, afastamos o remorso :)))) eheheheh) quando escrevias muito nunca deixava de passar por cá de manhã! Vá lá, volta ao teu ritmo, ok?

Joaninha disse...

Li no jornal esta "interessante" notícia, dos mais pobres de novo serem os mais penalizados. I-na-cre-di-ta-vel!
Tive já uma pega com um colega que defende que tem de ser assim porque os Bancos têm perdido muito. Mas o que querem mais????? Pagam menos do que nós, são-lhe perdoadas dívidas, etc. Mas só eles é que perdem?!

cereja disse...

Obrigada, Joaninha.
:D
Apesar de saber que a responsabilidade é minha, porque escrevo muito poucochinho aqui, tinha-me habituado aos vossos comentários durante tantos anos, que agora estranho quando fico a falar sozinha.... (O plural és tu, o King e o Zorro!)
Mas é formidável sentir que continuamos em sintonia... Beijinhos!

snowgaze disse...

Estou como a Joaninha, eu antes também vinha todas as manhãs. :) Agora também tenho menos tempo, é verdade, e depois leio aos 3 e 4 posts de enfiada.

Infelizmente, não foram só as comissões "de manutenção". Agora até as transferências pela net pagam comissão, os custos com as contas bancárias aumentaram para uma enormidade de repente, e a verdade é que não se justifica. Pois antigamente, sem net, com mais empregados e balcões, também se governavam sem cobrar por tudo e mais alguma coisa!