segunda-feira, 17 de junho de 2013

O tal 'subsídio de férias'

Tudo isto me parece um jogo de xadrez, onde no tabuleiro estão pessoas a sério, mas quem o joga vê peões (ou torres, ou cavalos, ou...) e faz experiências com jogadas complicadas.
subsídio de férias
, um mês a mais de ordenado, surgiu logo depois do 25 de Abril para ajudar a melhorar os salários que os trabalhadores de então recebiam. Subir os ordenados em bruto era difícil, mas aquilo já dava uma folga que era muito bem vinda. Esse, ou esses (se contarmos com o Natal) salários a mais se em parte eram usados para aquilo que o nome indicava, gozar umas férias descansado fóra de casa, ou passar um melhor Natal, a outra parte era usada para despesas diversas que se pagavam com essa verba.
Passaram-se muitos anos. Os contratos colectivos de trabalho passaram a incluir esse ponto: quem começava a trabalhar sabia que o seu salário anual era o correspondente a 14 meses. Parecia pacífico.
Depois veio o tsunami da famosa crise. E os tais jogadores de xadrez humano pensaram " humm... baixar 10% ao salário mensal chama a atenção, vamos antes retirar mais de 11% ao salário anual!" e zás! Retiraram os subsídios.
Bem, como isso criava uma diferença entre trabalhadores, tal não foi legalmente possível. E começam umas jogadas habilidosas, avançar uma torre, recuar o bispo, sacrificar um cavalo... ou seja, paga-se às pinguinhas, paga-se mais tarde, etc.
Não ocorre aos senhores jogadores que este dinheiro não é para extras, é já mesmo para o básico! E o básico extravasa por todos os lados.
Tenho uma amiga, que ganha muito pouco. Tão pouco que o patrão nunca regateou o subsídio. E contava-me no domingo, desesperada, que não ia poder pagar umas contas atrasadas, porque afinal o subsídio tinha ido para a inspecção do carro - instrumento de trabalho naquela casa - e para o dentista. Férias? Há anos que não saía de casa em Agosto, isso era o menos. Mas o carro, mesmo estando muito velho, era fundamental e cheia de dores tinha de extrair 2 dentes e substitui-los.
Não. Os senhores que nos dizem com um meio sorriso que afinal se pode bem passar sem férias no Algarve ou no estrangeiro, nem entendem que estão a gozar connosco. 
Um ser humano não é um peão num jogo!!!



Pé-de-Cereja

9 comentários:

saltapocinhas disse...

para "eles" somos, ou ainda menos.
ando-lhes com um ódio!!

cereja disse...

Sabes, saltapochinas, o que dá volta ao estômago (a mim!) é o que considero falta de respeito. Simples respeito. Não somos algarismos, não se pode olhar para as pessoas abstractamente. Oiço alguns tipos na tv que, como diria a minha avó, só com um pano encharcado!!! a arrogância, o desdém com que falam é revoltante!

saltapocinhas disse...

um pano encharcado... nas trombas. :)

Anónimo disse...

Mas muita gente ainda vê a coisa assim, como se isto fosse um extra! E não é! Quando citam países que não têm estes subsídios, esquecem-se de dizer qual a média de salários o quais os benefícios sociais que por lá existem...
Para mim é um roubo, isto.

cereja disse...

Tens razão, saltapocinhas, a expressão como deve ser, é essa! :)))
................
King, olá! (não tens passado por cá nos últimos tempos, sniff)
Tens razão essa coisa de citarem terras onde isso não há. É sempre o mesmo argumento de trás para a frente ou da frente para trás - ou têm porque são melhores, ou não têm porque são melhores. Grrrrrr!

Anónimo disse...

Vim do facebook para cá, não conhecia o blog.
Apoiado e com aclamação.
Gostei imenso do link para a lei original. Mas que tempos aqueles.....

FJ disse...

Muito bem,

Joaninha disse...

Cheguei!!! Atrasadita mas cheguei (como ralhaste com o King estou já a por as barbas de molho... lol )
Bela ideia este link - e mudaste a cor que foi bem bom porque na outra cor quase não se via que era um link- que me fez muitas saudades! Agosto de 74?! Onde isso já vai...
Eu entendo que para quem costumava passar as férias em viagem, ou num bom hotel, seja uma muito má mudança e descer de cavalo para burro, mas é importante pensarmos que para muitos de nós não é disso que se trata mas sim já não dar para pagar o seguro do carro ou da casa, ou até aquilo que se tinha pedido emprestado a um amigo com a garantia de que agora se pagava. Creio que seja isso que se passou com a tal tua amiga. Coitadinha, fez-me muita impressão a história.

cereja disse...

Encontrei por acaso uma outra pessoa a dizer o mesmo:
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=640120

"Hoje em dia, estes subsídios já não servem o seu nome. O das férias serve para pagar prestações e empréstimos e o de natal é canalizado para despesas com o material escolar.

Os subsídios que deviam ser usados para lazer e carregar baterias estão a ser usados para fazer frente à vida e sobreviver. E isto não é de agora. Já há uns anos que tal acontece na casa de muitas famílias."
como se vê.....