quinta-feira, 6 de junho de 2013

O guarda-nocturno

É uma profissão do passado. 
Eu recordo ainda pequena, uma figura que percorria as ruas já noite escura fazendo tilintar uma enorme argola com dezenas de chaves penduradas. É que vigiar as ruas queria dizer ajudar e proteger quem lá vivia. Não apenas evitar roubos e mal-feitorias, como também verificar as portas se estavam bem fechadas, e para esse fim tinha uma chave de cada porta da rua. Se porventura alguém se esquecesse da sua chave. batia as palmas. O silêncio à noite era tanto (trânsito? o que é isso?....) que esse bater de palmas se ouvia ao longe e ele acorria ao sinal, e abria-nos a porta.  No século passado, é claro.
Hoje quase não há guardas-nocturnos e nada com esse aspecto - por vezes lá passa uma carrinha da polícia quando há essa sorte, e certos lugares têm vigilância, mas um "vigilante" não é um guarda-nocturno...
Ora bem, há muitos anos, mais de 20, a conselho de uns vizinhos contratei o guarda-nocturno que vigia a minha zona. Era um homem atarracado, de bigode e um pouco vesgo. O pagamento era "o que eu quisesse dar" e combinei o que achei razoável. Até porque dado o seu bafo a vinho o trabalho que ele realizava devia ter algum senão.
Quase só o costumo ver no princípio do mês, mas recordo umas duas vezes em que me bateu à porta para para avisar que tinha deixado os faróis do carro ligados! Foi útil, sim senhor. Contudo nunca vi a criatura a fazer ronda nenhuma, aqui pelo bairro.
Como contei, o homem anda nisto há uns 20 anos portanto desconfio que a genica, se a havia,  já se foi. Mas desde há uns tempos tirei a prova dos 9: agora manda o filho subir a escada e bater-me à porta para receber, porque ele se cansa muito a subir a escada. Ó céus!!! Então este destemido guardião, cuja profissão implica que precise de correr ligeiro atrás de um larápio, acobarda-se de subir um 3º andar?! É demais para ele?
Ai que confiança a gente pode ter... ? OK, ó senhor guarda, lá vão mais uns trocos para a ajuda do copinho de 3, pronto.


 imagem daqui


Pé-de-Cereja

5 comentários:

Hipatia disse...

E lembras-te dos afia facas e navalhas? Talvez um dia destes voltem, que já não há dinheiro para deitar fora e comprar novo.


(ia comentar o post da educação, mas só me faz pensar na miúda violada por colegas de escola... terão aprendido onde e com quem?)

cereja disse...

Sim, Hipatia, tocam uma musiquina numa gaita de beiços :D. pelo meu bairro ainda passam de vez em quando. Para arranjar guarda-chuvas não vale a pena, mas amolar facas e sobretudo tesouras parece-me que vale a pena...
............
Essa história de arrepiar, que só comentei no FB, tem de certo muitas causas e nessa idade já começa a existir a força do grupo (ou gang, neste caso!)
Mas não contraria a minha tese - se em criança pequena tivessem interiorizado o respeito pelo outro, era mais difícil ter acontecido.

Joaninha disse...

Olha! Atrasei-me nas visitas...
Gosto muito de quando começas a recordar :D E o actual guarda, lol!!!!! com um cheirinho a aguardente para animar ehehehehe!!!

cereja disse...

Tá bem visto, Joaninha. Eu disse vinho mas aquele bafo era mais aguardente. Percebes mais de álcool do que eu, mulher!

José Santos disse...

Caro pé de cereja, se tiver oportunidade visite o link que lhe envio.
Esta profissão está a atravessar uma reestruturação, sendo que actualmente existem no país vários guardas-nocturnos na casa dos 20 e 30 anos.
O serviço de guarda-nocturno está a restabelecer-se nalgumas localidades e a implementar-se noutras.
Cumprimentos
Obrigado
José dos Santos
gnluzpt@gmail.com

http://guarda-nocturno.blogspot.pt/