domingo, 21 de julho de 2013

A pouco e pouco...

A pouco e pouco desaparecem as referências culturais da minha adolescência e juventude.
Primeiro foram os cafés. Quando eu era nova estudava-se muito nos cafés. Mesmo quem tinha boas, muito boas, condições de trabalho em casa, era no café que se estudava em grupo, que se debatiam ideias, era ali que se estudava a sério. Com o custo de uma bica tínhamos uma mesa a tarde inteira! E em cafés importantes. Recordo uma vez na Brasileira, onde me perdi no meio de uns textos muito interessantes e às tantas oiço o empregado perguntar-me baixinho se não queria mais nada. Imergi olhando espantada para ele que me explicou de um modo um pouco acanhado que eu estava ali há 3 horas com uma bica à frente... Fiquei meio atarantada, fiz uma outra pequena despesa e saí ainda a pensar no que estava a ler.
Os cafés foram substituídos por balcões de Bancos. Há muitos anos, porque agora os Bancos também não abrem balcões é tudo virtual ou em caixas atm. Mas tantos cafés de referência que desapareceram, o meu querido Monte Carlo é agora um pronto-a-vestir, não é preciso dizer mais nada!
E as livrarias também vão à vida. Sobretudo no Chiado, com a concorrência da FNAC, desaparecem quase todas - salve-se felizmente a Bertrand que resiste como a mais antiga livraria, até me parece que vem no guiness...
Mas fiquei com o coração pequenino quando li que vai acabar a Sá da Costa
Vai acabar a Sá da Costa???

Ainda antes da Barata, era na Sá da Costa que eu arranjava os livros que-não-se-podiam-comprar. Aqueles que passavam embrulhados por baixo do balcão. Onde havia uma cumplicidade anti-fascista tão forte, tão generosa, tão intensa.

Os tempos mudaram sim, e de que maneira.
E uma parte de nós, os que viveram essa época, morre um bocadinho também quando estas referências desaparecem. 
O que vão fazer da Sá da Costa? Loja de hamburgers? Pronto a vestir? Não sei, nem quero saber, mas sei que fiquei mais pobre.




Cereja

2 comentários:

johnny disse...

Também tenho muita pena. :( Ainda por cima eu que gosto muito de ler faz mesmo muita impressão ver uma livraria tão importante e rica em história de vida a fechar.:(

cereja disse...

Pois é Johnny, para quem gosta de livros é uma dor de alma ver morrer livrarias. E esta com 100 anos! Oh que raiva...