terça-feira, 10 de julho de 2012

Na gordura ou no músculo?


‘Sei’ bem que ‘nada sei’ sobre economia.
Mas, gabo-me de ter senso comum. Não é caso de me gabar uma vez que é 'comum' mas, enfim, considero que sim, que tenho bom senso e isso me ajuda a olhar tolerantemente para muitas coisas. Contudo a tolerância tem limites (ainda bem!). Desde que ouvi pela primeira vez um governante falar em que era necessário cortar "nas gorduras" de certos gastos que fiquei com a pedra no sapato. Não sei porquê mas a imagem que de imediato me surgiu não foi a do cirurgião estético e sim a do Shylock, o mais famoso usurário. Coisas minhas...
Quando se iniciou esse famoso "corte" vi logo que estava cheiinha de razão. Quando o corte - essas despesas que o Estado quer reduzir e as receitas que quer aumentar -  incide sobre os salários e o produto do trabalho, fica claro que não está a cortar na «gordura» e sim de um modo suicida, no «músculo». É certo, comecei por o dizer, não sei nada de economia mas expliquem com palavras simples, como é que se uma população ganha muito menos e até parte dela fica sem trabalho, se podem  aumentar as vendas ou pelo menos não as diminuir...? O estrangeiro, parva! Ah, claro, as exportações, tinha-me esquecido disso (!!!) Estarão a falar a sério?! As vendas das produções das nossas empresas ao estrangeiro pelo facto de se descerem os salários vai ser tão fulgurante que equilibra a enorme baixa do mercado interno???
Esta espiral previsível ( baixa de salários e desemprego / quebra de consumo / produtos que não se vendem / falências e desemprego / maior quebra...) é agora óbvia para todos. As gorduras estão nos subsídios de férias e Natal, e nos salários e pensões acima do smn, e não nas parcerias público-privadas, nos apoios aos bancos, nos contratos a privados para pareceres que deveriam ser efectuados pelos técnicos do Estado, nem na quantidade de assessores e especialistas além quadro que os membros do governo parece precisarem???!  *
Agora aparece uma nova carta neste castelo de cartas tão periclitante: o Tribunal Constitucional declara que não é justo a perda dos subsídios de Natal e férias que o estado enquanto patrão retirou. O Primeiro Ministro pensa «Bom. Então generaliza-se e os trabalhadores do privado também não vão ter!»
Ooooooh! Alguma coisa não bate certa. Um Primeiro Ministro na sua função de Patrão pode (poderá?) decidir o que paga, como paga, quando paga aos seus empregados. Mas como vai decidir o que os outros patrões, dentro dos contratos já assinados, vão pagar? Essa 'economia' beneficiaria quem? A receita do IRS do ano que vem seria ainda menor é claro, e as vendas iriam ainda baixar mais.
Que medida bizarra!
Mas isto penso eu que não sei nada de economia.
Os senhores importantes que falam economicês uns com os outros que digam a sua opinião.


Veja-se quantos são os adjuntos dos assessores dos adjuntos dos adjuntos...

Pé-de-Cereja

5 comentários:

Joaninha disse...

Muito bom este post. Concordo em absoluto!
Olha esta notícia: «Portugal sofreu a maior quebra de salários da OCDE em 2011» de hoje. Os salários nunca são 'gorduras' nem extras. Até os grandes salários, se pagarem os respectivos impostos, pode ser injusto mas é outra questão. Mas as medidas que atingem os rendimentos dos salários é que são inaceitáveis.

Joaninha disse...

E queria ainda acrescentar que já deixei por completo de ouvir os grandes sábios a falar economicês entre eles demonstrando com poucas excepções uma arrogância e um desprezo pelo cidadão comum a quem tratam como uma criança pateta, que dá vómito!
Sempre que oiço um deles só desejo que ele passe um ano a viver como aconselha os outros a viverem!!!!

cereja disse...

Pois é, Joaninha.
O «bem prega frei Tomás» vem à ideia sempre que se ouve os conselhos de algumas criaturas que apetece dar com um pano encharcado!!!

cereja disse...

Afinal quem percebe de economia (sempre é um Nobel, caramba!) também fala de ciclo vicioso recessivo...
http://www.ionline.pt/dinheiro/nobel-da-economia-plano-da-troika-nao-esta-funcionar

... ou seja não sou assim tão palerma!

cereja disse...

Volto aqui para deixar outro link:
Cá estão os pagamentos que me dão volta ao estômago
Então «É superior a 100 mil euros a verba que o Ministério da Justiça vai disponibilizar para o aconselhamento jurídico para a revisão de três códigos administrativos." ??????????!!!!!!!!