sexta-feira, 23 de junho de 2017

Reflexões

Gostava de começar com um texto excelente que a Isabel Faria deixou no facebook. Diz  aquilo que eu gostaria de ter dito  * que neste caso gravíssimo do descontrolo florestal todos fomos culpados, porque, em certa medida, não levamos suficientemente a sério. Mesmo os mais activos e comprometidos politicamente não se preocuparam o bastante - fazíamos manifestações, abaixo-assinados, até greves, por questões laborais, problemas de saúde ou educação, mas a floresta era para 'os ecologistas' eles que se ralassem. Eu não atiro a primeira pedra. reconheço.
Mas há coisas de que oiço hoje especialistas falarem pela primeira vez, talvez porque 'hoje' têm tempo de antena, e oiço outras vozes, de há muitos anos. Tenho uma grande amiga que nasceu numa aldeia. Filha de pais rurais e sem muitos meios viveu na aldeia até aos 13 ou 14 anos quando começou a trabalhar (!). Refere que os terrenos dos pais e vizinhos estavam sempre limpos, e esses pequeníssimos agricultores até recebiam paga para 'permitir' que lhes limpassem as matas, porque se aproveitava tudo. A erva para comida do gado, tudo o que fosse galho ou restolho para o fogão e aquecimento. Os terrenos não ficavam com nada que pudesse arder, mas ela já há anos que dizia que essa limpeza agora sai caríssimo!
No outro dia ouvi na TV o eco das palavras da minha amiga, na voz de um engenheiro silvicultor, quase as mesmas palavras que ela usava. Uma das sugestões dele, era que os resineiros que só têm trabalho 8 meses por ano fossem pagos os outros 4 meses pelo governo para esse trabalho de limpeza do restolho.
Porque uma das coisas que eu não sabia era o peso do privado na posse de floresta ou, dito de outra forma, a pequeníssima parte  pertencente ao Estado. Afinal cerca de 85% da floresta portuguesa está em propriedade privada,apenas 3% pertence ao Estado, os restantes 12% são baldios.
Parece que a percentagem pertencente ao Estado é uma das menores da Europa. Três por cento! Ou seja se a posse é privada a responsabilidade de cuidarem deles também é «privada». O que complica muito essa responsabilização quando, pelo que se sabe agora, muitos proprietários nem sabem onde estão as suas terras 
Desmazelo? Confusão. Respeito total e absoluto pelo direito de propriedade? Ficamos de boca aberta de espanto. A propriedade é sagrada e este ponto?! 

Talvez pelo pior dos motivos agora haja um grande safanão. 
Nacionalizem tudo e devolva depois  a quem provar a sua posse. E com obrigação de cuidar verdadeiramente dela.  É certo que isto piorou muito com o cultivo do eucalipto que cresce depressa, dá lucro com a venda da madeira, mas é muito inflamável. É urgente cortar os que existem e não se plantar mais, mas não chega. É toda uma mudança, até de mentalidade, que se tem de fazer. As matas devem ser limpas como a nossa casa.
Afinal o nosso país, a nossa terra, é a nossa casa.

Cereja

* procurar o texto dia 21/
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