quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Porquê?

Tentamos encontrar explicações para o que não se entende. Mas as explicações que eu vou encontrando para esta situação nem sempre colam bem à realidade.
Vamos sabendo histórias de agressão violentíssima entre casais ou, falando com mais rigor, de marido para mulher porque a inversa é raríssima.
É fácil pensar que pode haver dois factores, um pessoal, a personalidade e carácter de quem agride com facilidade, e outro social  ou seja a complacência com que até há uns tempos se olhava para estas situações (entre marido e mulher não metas a colher) juntamente com o modelo de comportamento a que se assistia em casa quando se era criança. Mas não só. Cada um deles só por si não explica isto tudo, nem sequer a conjugação dos dois.
Devo já dizer que o que mais me choca, nos casos de agressão num casal, é o que significa de falta de respeito. Tudo o resto são agravantes, mas impressiona-me imaginar como é possível viver diariamente com alguém que não se respeita!
O primeiro factor, a personalidade de quem agride um companheiro, é evidente quando de repara no leque social onde isto acontece - desde o mais simples e pobre trabalhador rural à alta sociedade. Se este flagelo percorre toda a escala social, mesmo que mais escondido em certos casos, é porque está relacionado com impulsos descontrolados da personalidade. Mas não só, embora eu tenha tendência a pensar que esse é o factor
mais forte.
O que viu e ouviu o agressor na sua infância? Como era a relação entre os seus pais, avós, tios? Com que naturalidade era encarada a agressão numa família? O modelo educativo onde se foi criado e a simplicidade com que ouvia referir cenas de violência quando era criança, moldam o carácter de uma pessoa já propensa ao descontrolo. Se via o avô agredir a avó e ela sujeitar-se, se assistia ao pai maltratar a mãe, se ouvia barulhos de pancadas em casa dos vizinhos, tem a tendência a considerar essa situação como natural. A mulher e os filhos são dele. São os seus bens pessoais.
Portanto cá chego à questão do respeito. Quando se considera seja quem for como nossa propriedade, não sentimos respeito é claro. Não "respeito" a minha mala de mão por mais que goste dela. Não "respeito" o quadro que tenho na parede mesmo que seja de um autor consagrado. Eu gosto dos meus bens, quero conservá-los, protejo-os e faço seguros para evitar a sua perda, defendo-os, mas... não tenho respeito.
É certo que o elemento sociedade tem muita força. Claro que um indivíduo violento pode andar ao murro ao vizinho do lado, insultar quem o empurre num transporte público, já para não falar no futebol. Mas não chega do almoço e ferra dois estaladões ao seu colega de trabalho, não encontra um amigo e o insulta só porque vem mal disposto acabando por lhe dar um par de pontapés, não sai do dentista e empurra a recepcionista que lhe pergunta se quer marcar... São comportamentos que usa em casa.
E porquê?



Cereja

4 comentários:

filipe guterres disse...

porquê, lianor? impunidade, crime sem castigo - atrevo-me eu a sugerir!

cereja disse...

Olá Filipe!!! Por aqui???? Que bom esta visita :D
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As coisas estão a mudar devagarinho, também é verdade, não ainda a prática mas o modo como a opinião pública reage. Mas é realmente até agora um crime-com-pouco-castigo, digamos assim. Porque um cidadão que agrida outro cidadão é naturalmente punido, porque é que dentro de uma família não? E, como ali referi, incomoda que se possa viver com alguém que não nos respeita. As histórias que são referidas naquela artigo, mulheres que vivem anos e anos com medo, deixa-me estarrecida. Como é possível?!

fj disse...

Falta de respeito, impunidade, deterioração "mutua" da relação,aceitação social...mais com certeza...provocações por agressões psicológicas....fj

cereja disse...

Tudo isso, fj.
Mas quando se pensa porque é que essa vida de medo é aceite, custa entender. Há umas dezenas de anos havia a questão económica, muitas mulheres não trabalhavam (fóra de casa!!! que lá fartavam-se de trabalhar...) e como dependiam completamente do marido aceitavam tudo, por não ter para onde ir.
Mas hoje nem sequer é por isso.
Claro que há a dificuldade de reconhecer que a relação acabou e assumir isso. Mas as histórias que lemos nos links são muito mais do que o fim de uma relação, é um pesadelo.