terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Telemóveis




Esta foto ganhou o primeiro lugar na World Press Photo.
Merece.
É uma foto fabulosa, de um grupo de imigrantes procurando o sinal do telemóvel que empunham como um facho na noite.
É interessante pensar como este pequeno objecto,  instrumento,  aparelho (?) tem hoje em dia um papel tão importante no nosso quotidiano. De início era um sinal de estatuto social. Não era toda a gente que tinha um, e possivelmente porque era muito caro. E grande! Recordo o primeiro que vi, e nem sei se se poderia chamar àquilo telemóvel, era uma espécie de malinha que o dono trazia a tiracolo. Claro que ele podia falar para qualquer lado com aquilo, mas pensei de mim para mim que era uma chinesice que não servia para nada, só se a pessoa para quem ele falasse tivesse um igual, e o preço era quase o de um carro em segunda mão...
Mal imaginava que 20 e tal anos depois, realmente todos teriam não um igual àquele mas sim uma coisa pequenina que cabia no bolso das jeans!
E, pelo menos na nossa sociedade, é o objecto mais disseminado, e que já não tem nada a ver com estatuto - enfim, talvez tenha a qualidade dele mas não a sua posse e uso. Ainda no outro dia numa reportagem sobre os sem-abrigo de Lisboa, se falava de um deles que durante a entrevista tinha ido rebuscar aos seus sacos e retirado de lá um telemóvel queixando-se de não ter dinheiro para o carregar... São as crianças a quem os pais dão um para saber onde elas andam. São os velhinhos que usam um ao pescoço para ligar à família ou até em aflição ao inem. 
Muitos de nós começamos por refilar de início, «quê? mas que trambolho! quero lá saber disso, se precisar de falar vou a uma cabine!» mas depois somos confrontados com uma urgência qualquer, um recado que não recebemos e nos alterou o dia, uma dúvida que era urgente esclarecer, um encontro falhado, o carro que avariou na estrada, e reconsidera-se "afinal aquilo dá jeito!"
E entretém! Estou a sorrir porque me lembro de que recentemente já por umas 3 vezes puxei-pelo-telemóvel nas circunstâncias em que um fumador acenderia um cigarro, quando se precisa de empatar tempo mas não queremos ficar com cara de parvos a olhar para o vazio.  O jeito que dá aquela geringonça para entreter... (e estou a pensar nos mais simples dos simples, os vulgaríssimos de Lineu, não os espertos, nem os de várias gerações) Dá para ir arrumando mensagens e números, actualizar toques, apagar fotos, ver as horas, ou seja não fazer nada mas sempre é mais saudável do que acender o cigarro. :)
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E depois vê-se esta foto, e sentimos um aperto no estômago. Este simples aparelhinho pode salvar vidas, ser uma estrela polar.
Não, o copo não está meio vazio, está completamente cheio!!!!

Cereja

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