quarta-feira, 5 de julho de 2017

Quem vê caras....


Eu luto um pouco contra as 'ideias feitas' e os estereótipos, mas é claro que a nódoa cai em todo o tipo de pano 😌
Ilustração desse provérbio:
Tenho na minha rua uma lojinha a que não o que devo chamar. Lugar? Mercearia? Vende sobretudo hortaliças e fruta, mas tem um pouco de tudo. Um espaço pequeno, um pouco sombrio, propriedade de (um indiano ? paquistanês?) um homem de pele escura, sorridente, de português macarrónico, muito atencioso.
Os preços são impressionantemente baixos. E os produtos são saborosos embora sem grande aparência. A fruta, exposta fóra da porta, é pequenina e desigual, nada de encher o olho como nos expositores das grandes superfícies, e como está ao ar livre, sem refrigeração, vai amadurecendo conforme lhe bate o sol... Não há lá ar refrigerado! Mas a dita fruta, assim enfezada por vezes, tem muito mais sabor do a vistosa dos supers!!! Assim como os legumes, batatas, cebolas, alhos, é tudo baratíssimo e saboroso.
Não vou lá tantas vezes como a loja merecia porque se situa no caminho oposto ao que utilizo todos os dias, e esqueço-me dela. Mas já reparei que é frequentada por muitas velhotas (senhoras idosas?) da zona, que se calhar param ali quando vêm da Farmácia ainda mais abaixo depois de medir a tensão arterial... Ontem quando lá entrei um casal estrangeiro falava em inglês com o dono, uma conversa animada, ouvida com atenção por uma das tais velhotas. Quando ficámos sós, ela perguntou-lhe «Ah! Falas inglês?!». Fazendo conversa eu, sorridente e talvez com uma pontinha de superioridade, respondi-lhe «Com certeza que fala... Deve ser mesmo a sua segunda língua! Fala melhor do que português, e melhor do que nós...»
Com surpresa minha, a senhora de pele muito enrugada, cabelo grisalho mal penteado, vestido trapalhão, e sinais de muito poucas posses, vira-se para ele e começa a falar em inglês! Não, não era inglesa, as palavras saiam um pouco hesitantes como quem procura o termo mais correcto, era uma portuguesa a falar um bom inglês! Ele, bem mais à vontade do que eu tinha ficado, perguntou como é que ela falava tão bem, e ouvimos a resposta - tinha sido professora de inglês!!!
Senti-me envergonhadíssima com o meu preconceito.
Vendo-a naquele lugar e com aquele aspecto, automaticamente classifiquei-a como uma avozinha-dona-de-casa com os conhecimentos adequados à aparência. Creio que corei de vergonha.
..........


Pois é as caras não acertam com o coração, ou com o passado de cada um.

Cereja

1 comentário:

méri disse...

Fizeste-me rir!
beijos e abraços