segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Os cafés


Inesperadamente encontrei no youtube uma canção.

Não conhecia a canção apesar de conhecer a cantora... desde «os tempos do Monte Carlo»!






Fiquei afogada em saudades. O café Monte Carlo foi uma referência para a minha geração, o ponto de encontro para a malta universitária, sobretudo a mais virada à literatura e às artes. E ainda por cima para mim era quase inevitável por ser pertíssimo da minha casa.
Nesses anos, os cafés eram a nossa segunda casa.
Conheci uma pessoa, já de outra geração, que me contou ter uma vez mandado fazer cartões de visita, com os dizeres «Fulano de tal, Café Chiado». Era a sua morada! Porque estávamos no café horas e horas. Eu própria, certa vez, sentada ao fundo da Brasileira com uma chávena de café, passei pela vergonha de ouvir dizer educadamente «Não deseja mais nada?» e vim à tona olhando o livro, caderno e lápis e enchiam o tampo pequeno da mesa, sem perceber a pergunta do empregado. Ele olhou para o relógio da parede e vi que estava há duas horas e meia sentada em frente de uma bica... Ups!
Os cafés mais frequentados, na minha geração, já não eram os da Baixa mas os que eram perto dos locais onde se estudava. O Tatu, o Nova Iorque, o Vavá, na zona da Cidade Universitária. O Cister para a malta de Ciências. Ou os perto-de-casa como o Imperial ('Confeitaria' ?!...) e também o Café do Cinema Império, por exemplo. A relação dos clientes com o Café e do Café com os clientes era muitas vezes próxima e pessoal. Em frente do Monte Carlo havia um outro café muito mais antigo, o Café Paulistana que o meu avô frequentava. Como era um republicano conhecido, consideravam que a sua presença dava prestígio à casa e o primeiro café era sempre oferecido!
Eu tinha a sorte do «dois-em-um» no caso do Monte Carlo: era o mais perto da minha casa e onde a malta amiga e com mais afinidades se juntava. Foram tarde e noites inesquecíveis as que lá vivi.

As saudades que esta canção veio levantar...


Cereja

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