quarta-feira, 8 de junho de 2016

«Era proibido sacudir o pó»

Acabei de ler, lê-se num instantinho, um livro chamado apenas Proibido

Livro engraçadíssimo. Porque o autor escreve com muita graça mas duplamente engraçado porque o tema presta-se ao humor. Bom, presta-se ao humor porque se passaram 50 anos e do ponto de vista de 2016 o que ali se narra dá mesmo vontade de rir hoje, na altura dava era raiva!...

No Proibido, António Costa Santos lembra 20 casos de proibição antes-do-25-de-Abril, situações inacreditáveis para um jovem de hoje. E útil porque se a licença de isqueiro é já muito falada por ser inacreditável, desconhecem-se outras como ser proibido dar beijos em público... (ai o pudor!) Achei engraçado porque me tinha esquecido completamente uma outra proibição, que ainda deve estar em vigor, e foi bastante famosa devido a caça à multa que então se fez.
Portanto venho relembrá-la: a dona de casa que passe um paninho pelos seus móveis para remover o pó que lá se acumulou não o pode sacudir à janela porque esse pozinho vai conspurcar a calçada. O polícia que a apanhe em flagrante, sobe a escada e pode multá-la em 8 escudos, o que nos anos 50 era dinheiro! 
Enquanto escrevo isto medito no estado actual do passeio por debaixo da minha janela, onde vejo pacotes de batata frita vazios, a esvoaçar ao pé de cocó de cão, uma embalagem de iogurte, papelinhos de facturas junto de cascas de fruta, enfim o rasto habitual de uma rua incívica, onde parece que um saco do lixo se rompeu e veio a espalhar o seu conteúdo ao longo do passeio... E imagino, com um sorriso amarelo, que uns gramas de pó não alteraria o panorama. 
Mas o que achei mais graça foi sobrepor a imagem do paninho agitado para soltar o tal pó e a actualidade onde não se admite essa operação de asseio doméstico sem um produto, de preferência com spay, para o-pano-agarrar-o-pó. Porque sem isso nada feito! Recordo ainda há pouco uma amiga referir que a senhora a quem ela paga para lhe fazer as limpezas se zangou - tinha acabado o ***** - um desses produtos - e sem isso não se podia limpar o pó! 
Sacudir o paninho??? Olha que ideia! Ainda apanho uma multa, olha lá!?!


Cereja

2 comentários:

Hipatia disse...

Uma das mais estranhas (ou talvez não) proibições punha as meninas do liceu feminino a subir e descer a rua por um dos lados e os rapazes do liceu em frente a terem de usar o passeio oposto. A minha mãe conta que, à conta disso, tinha de namorar à pedrada: eram as pedras e só as pedras que podiam atravessar a rua para transmitir os bilhetes de amor :D

cereja disse...

Essa não conhecia, mas lá que os rapazes não se podiam aproximar dos liceus femininos era verdade sim! Mesmo que fosse buscar a irmã :)
Neste livro relembra-se algumas que quem nasceu depois dos 25 de Abril não consegue imaginar...