Um texto de opinião do Pacheco Pereira sobre "os povos" que não querem trabalhar, para além de muito certeiro chamou-me a atenção por um interessante pormenor 'geográfico' - a linha que divide o norte do sul. Não sei se a sociologia já se debruçou sobre isto, talvez sim, mas não conheço estudos que foquem este ponto.
Os estereotipos são sempre maus (digo eu, generalizando, devia entrar aqui um smile)
Até porque quase sempre implicam censuras, tipo «os homens são assim», versus «isso é mesmo de mulher», o que é nítido em profissões: «oh, oh, advogado!!!» ou «vê-se logo que é comerciante!», «pensamento de taxista...»
Mas os mais injustos são os que generalizam sobre um povo. E quando se lembram de fazer uma lista caricatural dos seus defeitos ou por vezes qualidades que vêm sempre depois de um 'mas'. Condescendente, trocista, superior...O que me levou agora a reflectir sobre estes lugares-comuns, foi o Pacheco Pereira ter chamado a atenção não apenas para a ideia-feita e divulgada de que os povos do norte são trabalhadores, esforçados, diligentes, enquanto os do sul, são uns preguiçosos, que detestam trabalhar, fazem o menos possível, e vivem de papo para o ar à custa dos verdadeiros trabalhadores, mas que esse contraste se vê até no interior do próprio país.
E não é que é verdade?!
A Liga do Norte na Itália acha que o Norte sustenta todo o país, que o Sul é não produz nada, não quer trabalhar, são uns grandes preguiçosos. E comecei a pensar que isto tenha a ver com a ideia, se calhar religiosa, de que o trabalho é triste, escuro e frio - livra! - e portanto quem viva numa região mais aprazível prefere... não trabalhar! Porque esse estereotipo funciona em vários lados, afinal quem vive no midi francês, aqueles sortudos da côte d'azur, fazem contraste com os franceses do norte, mais aplicados, organizados, produtivos, enquanto no sul vivem do turismo, ou seja oferecem o bom clima que lhes cai do céu, e pronto.
Acredito que em Espanha seja a mesma coisa, apesar de não ter dados para o dizer, mas cá em Portugal é um estereotipo esmagador. O «povo que trabalha» é o povo do norte, ouvimos constantemente. Muitos dos grandes empresários do norte olham com a maior desconfiança e bastante arrogância, para os «mouros» esta cambada de vadios que habita abaixo do Tejo, e vivem à custa dos verdadeiros trabalhadores, que se esforçam como deve ser. As piadas sobre a lentidão dos alentejanos não são de hoje.
Nem sobre os sul-americanos.
É uma fatalidade o lugar onde se nasce.
Às vezes apetecia pegar no Mundo, ou na Europa pelo menos e virar ao contrário como se faz a uma ampulheta. Inverter completamente tudo para fazer a experiência. Era giro.
Às vezes apetecia pegar no Mundo, ou na Europa pelo menos e virar ao contrário como se faz a uma ampulheta. Inverter completamente tudo para fazer a experiência. Era giro.
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