segunda-feira, 5 de maio de 2014

Dia da Mãe e lápis azul

Ontem foi Dia da Mãe.
Dentro dos «dias-de» este é dos mais antigos e mais carinhosos. Claro que como em quase tudo há um aproveitamento comercial, e até parece que não se pode festejar um dia-de sem haver uma prenda comprada numa loja. Mas adiante.
Como é normal, nestas ocasiões relembramos cada um de nós a sua mãe. Aliás ultimamente tenho-me lembrado ainda mais da minha, porque dou comigo a fazer coisas ou a pensar do modo que ela fazia já velhinha e me faziam sorrir com alguma tolerância - grande parva eu! Mais actualizadas, claro, faço paciências no computador quando ela as fazia com umas cartas pequeninas, e eu olhava condescendente, ou vejo uma chachada romântica na tv quando ela lia histórias semelhantes em livro, etc...
Mas o que me fez escrever este post foi ter-me lembrado da vez em que num "Dia da Mãe" fui ler na rádio, uma minha redacção (como se dizia, não se falava ainda em 'textos'!). Teria aí uns 13 ou 14 anos e já não sei porque é que fui escolhida para aquilo, se calhar aquela redacção tinha caído no goto da professora de português... Foi engraçado e um tanto emocionante, a minha primeira vez de falar em público.
Era um texto pequeno, tenho-o aqui escrito à máquina, uma página A4. De grande e emotivo elogio ao papel da mãe, falando do seu apoio, presença constante, reforçando a óptica da adolescente que era dizendo que ela nunca falha quando as amigas falham, o maior dos elogios numa época onde os amigos são tudo!
Depois, como gostava de fazer, passei para o patamar da generalização. E entusiasmada dizia que os conselhos maternos são sempre bons, generosos, altruístas, que se seguíssemos esses conselhos seríamos pessoas excelentes. E, dedução seguinte, se as mães de todo o mundo têm esse ponto em comum, se todos os filhos seguissem os seus conselhos haveria paz, igualdade, bem-estar, justiça, em todo o mundo.
Ora, pouco antes de me sentar em frente do microfone, vi que a última parte tinha sido riscada e substituída por outra frase. Aos meus pais foi dito que... acharam que... parecia socialismo (sic) e portanto a frase foi trocado por "seria então compensada a obra sacrossanta, a devotada missão materna!" 
Nem mais! Honra me seja feita li a horrível frase sem me engasgar.
Era aquilo o lápis azul de que já tinha ouvido falar.



Cereja

6 comentários:

méri disse...

!!!!!!!!! Sem palavras!
Esta ainda não tinhas contado! pelo menos não me lembro.
bjo

cereja disse...

Bom Dia!!
Eu era miúda, adolescente. E sempre tive a mania de escrever, escrevi um Diário dos 10 aos 17 anos, mais ou menos. Isto foi em Lourenço Marques, anos 50. A história estava um pouco esquecida, mas agora com o Dia da Mãe veio ao de cima. Lembro-me que a minha mãe estava perdida de riso com aquela do "socialismo" e eu fiquei aparvalhada com a correcção...

Anónimo disse...

História interessantíssima.
Quando dizem que estamos pior do que antes....!

saltapocinhas disse...

xiiiii...
não cabe na cabeça de ninguém! loucos e burros!

cereja disse...

Olá Saltapocinhas!
Mas foi tal e qual!!!
E a pirosice da "frase de substituição"!!! Foi por acaso que me lembrei desta história e também por andar ali a arrumar papeis. Os meus pais estimulavam-me muito, e guardavam quase tudo o que eu escrevia... Uma vez ganhei um 1º prémio na revista "Os Nossos Filhos" e compraram vários exemplares! (foram-se perdendo é claro mas ainda tenho um!) :))

Joaninha disse...

Já tinha lido este post, mas só hoje venho comentar, que a ligação do meu pc com este blog não me deixava comentar com o meu nick!
......
História giríssima, emiele, uma gota de água é claro nas barbaridades que se fizeram, mas fosses tu de outra tempera ou tivesses outros pais, e poderia ter um enorme influência no teu relacionamento com a sociedade e o poder estabelecido!