Oscilo muito entre escrever aqui no blog ou no facebook. Claro que o face é mais espontâneo, mais rápido, é lido de imediato por várias pessoas. Como os meus blogs vêm do tempo-em-que-não-havia-face neste momento a sua utilidade foi alterada, já não deixo aqui o comentário da notícia do momento, isso passou para o face!
Mas por vezes o texto para lá fica demasiado grande.
É o caso deste! Uma amiga-de-facebook a propósito de uma notícia sobre a futura «Feira Popular» onde relembrei as Feiras de antanho com algum saudosismo, referiu os restaurantes de lá. A verdade é que eram quase obrigatório os grelhados, ou frango assado, ou sardinha também assada, porque esses odores eram demasiado fortes para a pobre concorrência de outros acepipes. E deixou uma frase muito curiosa: «Em Entrecampos, quando era estudante comia lá pão com o cheiro da sardinha. Mais tarde voltei para comer sardinhas assadas»
Esta frase remeteu-me de imediato para um romance que eu tinha adorado na minha adolescência. Chamava-se Nasseredine, o Vagabundo. Era uma biografia imaginada, creio eu, de um contestatário habitante de uma Arábia medieval, que se divertia a pôr em causa as leis do emir da época - ditador é claro. Espalhava a rebeldia de um modo muito divertido e punha em cheque a polícia que nunca o conseguia apanhar. Era 'vagabundo' porque estava sempre em movimento, nunca parava nem tinha residência fixa.
Ora certa vez ele chegou a uma estalagem, e deparou com uma grande briga. O estalajadeiro agredia um pobre diabo e gritava com ele. Nasseredine que se metia em tudo, foi logo saber de que se tratava e o estalajadeiro explicou-lhe o homem que se tinha refugiado no calor da estalagem, tinha tirado um bocado de pão duro do saco e aproximou-o do vapor do tacho que estava ao lume e assim o pão ficava mais saboroso, portanto tinha de pagar por isso. O homem só tinha 3 ou 4 moedas que o outro queria anexar, e o Nasseredine, muito sério disse que era justo, estendeu a mão e recebeu as 4 moedas do desgraçado. E quando o estalajadeiro se preparava para as receber, ele chocalhou-as ao ouvido do outro e devolveu-as ao pobre. Ficaram todos espantadíssimos, mas ele explicou:
«Foi a mesma medida. Ele usou o cheiro da tua comida e tu ouviste o som do seu dinheiro. Foi justo e estão quites. »
Muitas vezes, perante certos serviços que recebemos, ou por vezes nem recebemos mas temos de pagar, apetece imenso fazê-los ouvir o som do nosso dinheiro... Era da maior justiça!
Cereja
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