quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"A bolsa ou a vida"

A agiotagem era, nos tempos medievais, um pecado. A personagem de Shylock, símbolo do prestamista, teve de ser representada por um judeu - não poderia ser um cristão nessa época. Aliás nesses tempos, se as dívidas tinham de ser pagas como é evidente e até se aplicava a pena de prisão a quem as não pagasse, (creio que actualmente a constituição não permite a prisão por dívidas) na altura do pagamento pagava-se o seu juro que era uma percentagem da quantia que se devia.
Isso era dantes.

Actualmente os Serviços das Finanças, ou melhor a Autoridade Tributária e Aduaneira quando há um atraso no pagamento de uma quantia, exige muitas vezes o pagamento de um juro (?) de 100, 200 ou 300 por cento da quantia que se deve. Hoje na Antena 1, no programa Antena Aberta, o tema foi «as multas no pagamento das portagens» e, já que a antena estava aberta, alguns participantes aproveitaram para falar também no pagamento da taxa do IUC em caso de atraso, mesmo que não tivessem conhecimento desse tal atraso. Impressionante.

Tenho a 'sorte' (?) de até hoje não ter sido apanhada por nenhuma destas situações mas tenho amigos pescados por estas redes de arrasto e tenho percebido como a coisa funciona. As histórias que ouvi esta manhã eram exactamente iguais às que tenho ouvido por todo o lado. Como é possível?! Um país que «inventou» a via verde, ideia excelente e muito prática, como é que depois implementa um sistema super-burocrático de pagamentos que implica idas aos correios e perdas de horas de trabalho??? Como é que quem passa numa portagem e não reparou ou se distraiu não recebe um aviso com brevidade de modo a acertar esse débito, mas sim meses e meses depois com multas já inflacionadas de um modo alucinante?! A portagem era de 1 € ou 1,5 € e vai ter de pagar 60 €? ...explicando o funcionário quando se vai tentar perceber a acusação, que tem de pagar primeiro, para poder protestar.

Isto nas portagens. O famoso IUC também: o comprador do carro não o registou nas Finanças, o carro foi roubado, teve um acidente e foi para a sucata? Não interessa nada! O primeiro registo é que interessa e a boa fé do cidadão não impede que as coimas agravadas sejam do valor do próprio carro...

Pois é. As Leis das Finanças não foram concebidas por pessoas de bem. Contra um ladrão podemos fazer queixa na esquadra, mas a quem nos queixamos quando é a própria lei...?


Cereja


3 comentários:

saltapocinhas disse...

O engraçado é que a conversa cá em casa estava a ser sobre este tema, e quando abro a tua página estás a falar exatamente do mesmo!
O estado trata-nos a todos como se fossemos malfeitores.

cereja disse...

Oh Saltapocinhas, tenho estado de baixa, no estaleiro, com a porcaria da gripe que apanhou toda a gente e nem aqui tenho vindo, obrigada pela visita. :D
É o que senti. Parece que somos todos uns caloteiros terríveis, mas afinal eles é que exploram descaradamente. Ando que nem posso-

Anónimo disse...

Vejam esta notícia:

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4358454

Finanças penhoram salário por dívida de cinco cêntimos
..............
[...] tinha o salário penhorado, por causa de uma dívida de cinco cêntimos resultante do atraso no pagamento do imposto único de circulação.

Vale a pena seguir o link e ler tudo, dizem que o computador é cego, detecta o atraso e envia para penhora...