No último post que escrevi aqui, sobre o Portugal do interior e a desertificação que observamos quando aparentemente tudo indica que se pode ali viver com boa qualidade de vida e muito menos stress (basta não haver as horrorosas horas de trânsito até se chegar ao trabalho!) recebeu um comentário de concordância da minha amiga Saltapocinhas, chamando a atenção para que umas das vantagens da vida moderna é a net e o podermos trabalhar em casa e à distância. Bem visto.
Comecei a responder-lhe na caixa de comentários, "além disso também os transportes são bem mais rápidos" e ao relembrar o que era na minha infância uma viagem para a aldeia, decidi "fazer a agulha" e deixar essa recordação aqui, num local mais público. E foi assim que eu contei ao meu filho:
Quando eu era criança ninguém na nossa família tinha automóvel. No dia em que ia de férias (não se fazia uma viagem destas só por um fim-de-semana!) saía com os meus avós, ia quase sempre com eles, ainda muito cedo e íamos apanhar um eléctrico. De casa até à paragem carregando a bagagem - ainda não tinham inventado as rodinhas para as malas - e esperava-se o eléctrico que nos levava ao Terreiro do Paço para apanhar o barco. Claro que se tinha de ir de barco, ponte só havia lá para os lados de Santarém!
Depois da viagem de barco para "a outra margem" íamos até ao comboio. Esse ponto está um pouco enevoado nas minhas recordações, não recordo se a estação era perto ou longe, devia ser no Barreiro creio eu (?) mas lembro-me bem da chegada lá. A emoção de procurar a carruagem, os adultos a arrumar as malas, eu a querer um lugar à janela, pessoas atrasadas a correrem, despedidas, um homem de boné no cais com um apito a dizer "Vai partiiiiir!" e o comboio a apitar em resposta e a arrancar... Que excitação!
E em seguida uma quantidade infindável de paragens. Eu sei que na 4ª classe tive de decorar todas as estações de caminho de ferro (é verdade, é!) e confesso que hoje nem me lembro de nenhuma. Mas eram muitas. E, como havia calor, em muitas das estações mais importantes apareciam uns vendedores com umas bilhas de barro pequeninas com água, o que eu achava uma maravilha porque depois ficava com a bilhazinha para brincar.
Recordo que, como íamos para o Baixo Alentejo, se fazia transbordo creio que em Casa Branca. Novo comboio, novos lugares, mais excitação. Comíamos qualquer coisa, que a hora do almoço já lá ia... Depois mais paragens, eu já com sono, e finalmente o fim da viagem (de comboio)!!! Não da viagem em si, porque a casa da minha tia-avó, na aldeia para onde íamos não era ali, ali era uma Vila, sítio importante que tinha estação de comboio e tudo. À nossa espera a tia mandava um carro puxado a cavalos (mulas talvez), e eu também adorava isso, achava-o lindo, tinha uma capota verde comprida e chamavam-lhe chorrião, palavra que nunca mais ouvi, mas existe! Levava-se mais uns 20 minutos de caminho que aquilo era para ir devagar, as mulas iam a passo abanando os rabos e eu felicíssima empoleirada ao lado do condutor.
Recordo que, como íamos para o Baixo Alentejo, se fazia transbordo creio que em Casa Branca. Novo comboio, novos lugares, mais excitação. Comíamos qualquer coisa, que a hora do almoço já lá ia... Depois mais paragens, eu já com sono, e finalmente o fim da viagem (de comboio)!!! Não da viagem em si, porque a casa da minha tia-avó, na aldeia para onde íamos não era ali, ali era uma Vila, sítio importante que tinha estação de comboio e tudo. À nossa espera a tia mandava um carro puxado a cavalos (mulas talvez), e eu também adorava isso, achava-o lindo, tinha uma capota verde comprida e chamavam-lhe chorrião, palavra que nunca mais ouvi, mas existe! Levava-se mais uns 20 minutos de caminho que aquilo era para ir devagar, as mulas iam a passo abanando os rabos e eu felicíssima empoleirada ao lado do condutor.
E chegava-se! Quantas horas depois?.... Ainda antes do jantar mas não muito - nesse dia para mim era jantar/cama, estava feliz e extenuada.
................
Pois é, meu filho. nada a ver com ir de Lisboa ao Algarve em pouco mais de 3 horas, pois não? Mas era uma festa e as férias parecia tão compridas e sabiam tão bem.
Cereja
3 comentários:
Lindo testemunho!!!
Pois é, esta ainda é a grande plataforma para irmos escrevendo as nossas memórias, juntando-as de forma a, mais tarde, as compilarmos e quiçá, usá-las como entendermos.
Permite-me dar-te uma ajuda, assim quando dizes que ponte só lá para Santarém, o certo é em "Vila Franca de Xira". Confirmo que o combóio para o Sul era no "Barreiro", bem como o transbordo a que aludes, era em "Casa Branca". Ás vezes, esse transbordo também podia ser feito na "Funcheira".
De resto o dia inteiro de viagem, a festa, os cheiros, as gentes é um sem fim de recordações, coisas que hoje como bem referes é impossível de fazer.
Gostei imenso!!!
Um abraço, amigo da Sesta ;)!
Realmente não me lembrava onde era a outra ponte, mas recordo lindamente a inauguração da 25 de Abril (nunca se dizia Ponte Salazar antes, dizia-se Ponte sobre o Tejo!)
A história do transbordo disse um pouco ao acaso, mas soava-me que era Casa Branca :) e, de facto talvez também Funcheira como recordas. E o que a gente decorava de estações de caminho de ferro, que maluquice!!! mas há uma coisa boa, era que treinávamos muito a memória, coisa que a malta miúda hoje não faz.
Mas o dia da ida era tão bom! Eu ia com os meus avós porque os meus pais eram professores, e não ganhavam nas férias, portanto tinham de dar explicações, ou fazer traduções, era muito complicado. E a gente tinha 3 meses de férias, aproximadamente...
Que saudades.
Também gostei muito, como o amigo Palmeiro!
No outro blog tinhas uma rubrica muito boa chamada "Era uma vez" Escrever aquilo tudo de novo deve ser complicado, mas não podes deixar um link para essa rubrica? Os que não conheciam o Pópulo poderiam descobri-lo...
Enviar um comentário