segunda-feira, 14 de abril de 2014

Insensibilidade

A resposta da sociedade às questões de Saúde dos cidadãos é, creio eu, talvez o único ponto que preocupa pode preocupar toda a gente. As questões da Educação sendo fulcrais, podem não interessar directamente quem não tenha filhos, nem esteja ligado a crianças ou jovens. Transportes, é muito importante mas pode-se trabalhar perto de casa, e só haver necessidade de nos deslocarmos muito raramente. Habitação, fonte de preocupação para muitos, pode não o ser para todos, há quem tenha casa herdada por exemplo. Mas a Saúde...! Para nascer, crescer bem, curar eventuais doenças (nós e os nossos amigos) e morrer, a Saúde tem de estar presente. Afecta mesmo a todos!
Daí o ficar-se boquiaberto com as espantosas declarações de quem teria a maior das responsabilidades quando fala de questões de Saúde, porque é - imagine-se! - presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Ética! Como pessoa que representa a Ética acha que «Ministério da Saúde “pode e deve racionar” o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, Sida e doenças reumáticas». E considera que «não se pode dizer que haja pior saúde em Portugal porque estamos em crise». Achará que sempre foi mau? Ou considera que não é por falta de dinheiro mas por incompetência? O que queria dizer com a frase? 
Tenho o maior respeito pelos profissionais de saúde que, com algumas excepções como em todas as profissões, se dedicam o mais que podem a ajudar quem sofre. E em condições cada vez mais difíceis. As declarações deste senhor são completamente revoltantes pela enorme insensibilidade ou então ignorância da realidade.
Uma das minhas maiores amigas numa situação económica muitíssimo difícil, sempre utilizou os serviços públicos de saúde com satisfação. Tem há dezenas de anos a mesma médica de família de quem gosta imenso. Há poucas semanas apareceu-lhe um carocinho junto a um olho, e com uma calma grande ( já tinha extraído há tempos um que foi declarado maligno) foi à sua médica. Esta remeteu-a logo com uma carta a uma urgência. Observada lá, consideraram que era urgente mesmo, e marcaram logo consulta para dali a cerca de uma semana às 10 da manhã. Ela chegou uma hora antes, e a senha que recebeu era nº 76! Depois disso foram chegando doentes e mais doentes, disse-me que os corredores pareciam um cais de metro em hora de ponta!!! E sem sítio para sentar... Saiu de lá pelas 4 da tarde. E o processo repetiu-se no dia da operação - mandaram-na ir cedo, esperou em pé sem comer até ser operada pelas 4 horas e saiu às 5. Gabou-me várias vezes os enfermeiros e médicos, muito atenciosos, comportamento impecável, mas a desorganização e o caos era o que acabei de contar.
A Saúde não está pior por causa da crise? Ele deverá então explicar porque é que está assim!





Cereja

2 comentários:

saltapocinhas disse...

os profissionais da saúde(a maioria) são uns heróis: trabalham cada vez mais e ganham cada vez menos e com menos condições de trabalho.
as coisas não estão piores graças a eles.

cereja disse...

É também o que penso, Saltapocinhas. O caos que referi é por outras causas, e entre elas um absurdo aumento da burocracia. A informatização que deveria facilitar muito, até está a complicar, porque exige um preenchimento exaustivo de mapas, uma constante actualização, e não conta com as constantes "falhas do sistema". Aliás essa "ditadura da informática" alastra a quase todas as áreas. Tanto quanto me dizem, aí na Educação também têm de preencher montes e montes de quadros...