Quando encontro escrito na comunicação social algumas das minhas inquietações sobre educação fico toda satisfeita. Porque, por maior certeza que tenha do acerto daquilo que penso nalgumas áreas, a minha voz é baixinha um artigo numa revista é outra coisa! Por isso chamou-me a atenção quando li "Deixe o rapaz descer o escorrega sozinho" e, tal como o título sugere, encontrei conselhos que são o puro bom senso.
Ainda ontem, estava no meu quintal e ouvi uma avó a gritar assustada a um neto "Tu não corras! Olha que cais!!!" e fui espreitar. É uma rua um pouco íngreme onde quase não passam carros porque não tem saída. O rapaz tinha os seus 8 anos bem medidos, e parecia bem saudável, até ligeiramente anafado. Porque raio é que não havia de correr?! E porque é que se augurava que o miúdo podia cair? E se caísse, também qual seria o drama?
Circula por aí, há já vários anos, um texto "romântico", que recebi dezenas de vezes por email, talvez demasiado saudosista, porque selecciona através de lentes cor-de-rosa uma época passada. Mas se há uma poalha dourada a salpicar este texto, o que ali se diz não é nenhuma mentira. É um enunciado de imensos medos, e algumas das precauções são sensatas mas levadas ao exagero bloqueiam a autonomia de qualquer criança. O mundo hoje é mais perigoso? Ai isso é. Então mais uma razão para ensinar a uma criança como se defender desses perigos.
Corre rua abaixo, tropeça e cai. Pode acontecer, claro, em 10% dos casos. Se esfolar o joelho, lava-o bem, desinfecta, e põe um penso rápido. Mainada! "Não pegues na faca que te cortas!!!" (quase sempre seguido de já-aí-vou-cortar-te-o-pão) quando o educativo seria "põe o pão em cima da tábua e segura assim na faca; faz lá, para eu ver".
É que para uma criança crescer bem tem de conseguir autonomia, e muitas vezes aprende-se por tentativa e erro. Há asneiras que se têm de fazer, para aprender as consequências. E a protecção tem de ser adequada à idade da criança, ou tem o efeito exactamente contrário...
Cereja
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