Dois pontos prévios:
a ) Por acaso nem sou daquelas
pessoas que consideram à priori que "no nosso tempo" nós tínhamos
mais vocabulário do que o que é usado pelos jovens na actualidade. A mim
parece-me que... depende. Depende por um lado que grupos estamos a considerar,
e depende também que vocabulário estamos a referir. É óbvio, por exemplo, que
todos os termos e expressões técnicas e 'anglicizantes' são dominados com um
enorme à vontade por qualquer jovem de hoje, o que não se encontra na minha
geração.
b ) O segundo ponto tem a ver com
o ensino. Considero que um bom professor tem de ser um bom comunicador. Se está
a ensinar seja o que for, tem de o fazer de um modo a que a mensagem chegue ao
seu alvo. A linguagem deve ser adequada. Adequada à idade dos alunos quando se
está na escola, ou ao grau de conhecimentos que devem possuir noutros casos.
Depois destes dois avisos, conto
a minha história:
Conheço um jovem que anda num
grupo de teatro. Coisa simples, despretensiosa, um
"curso-de-fim-de-tarde" onde vai 2 vezes por semana. Para a inscrição
não lhe foi pedido nenhum grau académico específico. Nesse curso, para além da
parte prática é-lhe pedido também uns estudos teóricos o que é de aplaudir, e a
que ele se tem dedicado com muito interesse. Excelente, não é? Mas o texto base
que lhe deram para o orientar estava a atrapalhá-lo e veio pedir-me ajuda
porque estava desorientado com a maioria dos conceitos que lá encontrava.
Queixou-se de que foi procurar um termo ao dicionário e era remetido para
outro, que o remetia para outro e assim sucessivamente sem perceber nada!
Estranhei um pouco, e fui ver qual o texto base. Eram algumas folhas intituladas
"Questões Preliminares" e entendi que era mesmo uma iniciação.
Ora a tal palavra era
semiotização que o remetia para semiótica. Eu sei (mais ou menos) o que é a
semiótica e dei-lhe uma versão simplificada, mas continuando a olhar para o
texto, pasmei. Depois da dita semiotização, vinha a transcodificação, e a
transformabilidade. Falava de "uma autoria intersubjectiva" e de
"um significante com vários significados e um significado através de
vários significantes". Ele não devia esquecer "a importância dos paratextos"
e ter cuidado com a "inflação dos aspectos paralinguísticos"; devia
ver se o texto está conforme às didascálias, e estar atento à realidade
proxémica, deíctica ou anafórica na sua movimentação e gestualidade. O
espectáculo deve ser lido por sinédoque.
Alto!
Se aquilo se destina a fomentar o
interesse por estudos de teatro, é um tiro completamente ao lado! Pelos vistos
(ele foi atrás do texto, o que hoje em dia é fácil com as técnicas
informáticas) aquilo é uma base de trabalho de um curso superior na Faculdade
de Letras. Como disse, conheço o estudante e sei que o seu vocabulário é
razoável. Mas não de forma a ler aquele texto. Ou seja o alvo do ensino está
errado, portanto não ensina.
Uma pena.
Cereja
2 comentários:
!!!??? Realmente.
Gosto é da imagem: podiam pô-la no final do texto, como fizeste
:)))
A imagem foi das que cacei na net, não podiam pô-la no texto que lá se ia o enfatuado do discurso... Obrigada pela visita!!!!
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