A questão do trabalho é uma daquelas que mais facetas pode ter conforme se está mais próximo ou mais afastado do problema. Creio que preocupação toda a gente tem, mas ela pode ir de um grau puramente teórico, olhando-se a situação geral do país ou mesmo da Europa, à mais angustiosa preocupação directa, quando se perde o que se tinha ou, depois dessa catástrofe acontecer, não se consegue culminar esse vazio nem direi ao mesmo nível mas a nível nenhum! Lemos notícias sobre as habilidades das leis sobre despedimentos, (lícitos e ilícitos) que procuram baralhar as coisas e acaba-se por aceitar seja o que for desde que tenha uma aparência de se poder perder menos...
Mas um dos aspectos mais revoltantes é o engano e o engodo permanente a que é submetido quem simplesmente procura emprego e vai respondendo a tudo o que lhe é sugerido pelo Centro de Emprego. Uma das minhas maiores amigas tem um filho a viver lá em casa. Com 30 e tal anos, nunca foi independente, tendo sempre vivido no ninho que é a casa dos pais, e com alguma ligeireza quando era mais novo. Ligado por amor e formação às artes, no início da sua vida de adulto "deu-se ao luxo" de recusar alguns trabalhos demasiado rotineiros e que sentia sufocantes. Foi imprudente, mas à época até se entendia... Os anos foram passando, ele já pôs os pés na terra há tempos, e agora já aceita tudo, mas tudo.
E chegamos à parte sinistra. Naquela família o pai, que tinha uma minúscula empresa, entretanto reformou-se com uma reforma de 400 € que gasta consigo e assistência médica. A mãe tem portanto de sustentar uma família de 3 pessoas com um salário pequeníssimo, e nem sei como o consegue. Este rapaz para procurar trabalho começa por ter de ir a entrevistas a que é convocado e já aí gasta dinheiro no transporte - eles não vivem e Lisboa e ida e volta não é menos de 5 €... E depois, sistematicamente, aparecem-lhe tarefas que o obrigarão a deslocar-se em transporte próprio o que implica as despesas de um carro. Mas o pior nem é isso, é que há sempre um período de 'experiência' nem que seja durante um mês (pelo menos) onde ter de gastar em transportes e alimentação e passado os tais 30 dias dizem-lhe que afinal não fica. A minha amiga não ganha que chegue para financiar o trabalho do filho!!!
Mas desta vez a coisa parecia um pouco melhor, dentro do péssimo. A pessoa que o entrevistou oferecia 300 € de base e mais um pouco conforme os contractos que conseguisse angariar. Estava a anos luz daquilo que era desejável, mas sempre dava tempo para respirar e ir batendo a outras portas. Ele até já se imaginava a conseguir juntar para um bilhete que permitisse a emigração. Ontem a mãe, desanimadíssima, conta-me que quando no segundo dia foi assinar o contracto (com outra pessoa, não aquela que lhe tinha feito a proposta) fica a saber que são 200 €, tem de descontar para a Segurança Social, mas só recebe esse dinheiro se angariasse 20 contractos por mês!!!! Tal e qual o modelo já conhecido... E não é uma empresa de vão de escada, é uma muito importante.
Volta à estaca zero.
Mas isto não é publicidade enganosa? É uma mentira descarada não sei com que vantagem. Talvez quem more mesmo ao lado da empresa, possa ir a pé e ainda almoçar em casa, e portanto possa arriscar a trabalhar completamente de graça, mas devem ser raros os casos. Sinto-me a rebentar de indignação!
Cereja
2 comentários:
Revoltante!!!!
E esta coisa simples não é entendida por muita gente. É giro que todos dizem que sabem o que é porque os seus filhos (ou sobrinhos, ou primos, ou afilhados, ou....) também estão com dificuldades. Claro que estão. É um abismo o que separa a actualidade com a situação já não direi anterior, mas tanto quanto recordo até antes de Abril. Nesses tempos sinistros, também se era muito mal pago, mas trabalho (desse mal pago) havia. E quem tinha um canudo melhor ainda.
Obviamente que isto não abrange a lista negra dos 'condenados' pela PIDE que de facto viam as portas a fechar, mas o resto do pessoal explorado e tudo mas ia trabalhando e até ajudava os pais. O que se vê hoje, adultos de 30 e muitos anos a viverem com o apoio dos pais é inacreditável.
Ai, ai...
O meu raciocínio ficou por metade. Queria dizer quanto às pessoas que também se queixam e com razão, (mas cujos filhos com trabalho precário, a recibo verde, sem nenhum vínculo, etc, etc, apesar de tudo têm ocupações que não são de 200 € mensais, muitas vezes têm bem mais do que isso de mesada!!!!!) que a dimensão do problema é outra.
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