Uma história que me contaram ontem veio relembrar uma dúvida que tenho:
Há um "hábito" muito curioso na relação entre o Estado e quem trabalha com ele como independente. A pessoa faz o trabalho para que foi contratado e no final supõe-se que deverá receber a verba que foi ajustada para esse trabalho, mediante a qual passará o respectivo recibo. Pelo menos é o que é lógico. Se vou a uma loja fazer uma compra, entregam-me o produto perante o pagamento e, por ter pago, devo exigir depois que me passem uma factura, um recibo, não é?
Pois, mas quando a mercadoria é trabalho não é assim. Primeiro oferece-se a mercadoria. Depois de a ter recebido, usado, confirmado que está em condições, exigemuma factura um recibo em como se recebeu o dinheiro (que não se recebeu!). E algum (ou bastante) tempo depois lá se vem a receber o dinheiro correspondente ao recibo que já se passou...Estranho? Pode parecer mas para os inteligentes das secretarias isso é o normal. Para se poder ser pago por aquilo que já se fez, temos antes de mais nada assinar um documento em como ... já se foi pago!!!
Pois, mas quando a mercadoria é trabalho não é assim. Primeiro oferece-se a mercadoria. Depois de a ter recebido, usado, confirmado que está em condições, exigem
Já há uns anos, aconteceu-me o caso interessante de ter pago IRS sobre uma quantia que ainda não tinha recebido nem vim a receber tão cedo, mas o imposto já lá cantava porque eu tinha passado o famoso recibo!!!
Este esquema sempre me fez impressão, porque notava uma grande desconfiança em relação ao prestador do serviço que, pelos vistos poderia de má-fé dizer que não tinha recebido o seu pagamento, mas exigia uma confiança cega no patrão - pois também poderia acontecer que, de recibo na mão, fugisse ao pagamento afirmando já o ter feito... Mas são as normas que desde há muito regem os pagamentos que o Estado pratica.
Acontece que esse modelo agora se pratica em muitos sítios. O tempo pode ser curto, até pode ser logo no dia seguinte, mas só se deposita o dinheiro na conta de quem passa um "recibo verde" se já está passado o recibo dessa quantia.
E ontem discutia-se à minha frente o caso de alguém que trabalhava para uma instituição privada, e muito interessante por sinal, mas que desde há 5 meses que ia passando os recibos sem que recebesse nadinha em troca! É certo que era um trabalho que só ocupava algumas horas por semana, não era em full-time nem era a única fonte de receita dessa pessoa, caso em que seria gravíssimo, mas não é isso que está em discussão, é a justiça de se passar um recibo antecipadamente. A declaração de uma mentira, que se recebeu X, quando isso não aconteceu.
Vejo sorrisos dizendo que não é importante. A mim parece-me que é. Como podemos ter confiança se a base é de mentira? Enfim, quem manda é o dono da bola...
Pé-de-cereja
Pé-de-cereja
5 comentários:
Depois de ter escrito reparei que não tinha deixado a imagem que me tinha surgido. Era como se ao fazer a tal compra na loja, chegasse à caixa com o embrulho debaixo do braço e exigisse a factura. Depois ia para casa, usava o produto, via se gostava, se era bom, etc, e um mês depois voltava a passar por lá e pagava o custo do mesmo... Que tal?
Já se sabe que é assim e toda a gente aceita.
É que a alternativa é (ou seria) dar esse trabalho a outra pessoa menos 'esquisita' ;(
Sei bem o que é. Quando nos queixamos ouvimos "não te rales; eles pagam sempre" Ah poizé, mesmo que seja um ano depois. E dizemos ao senhorio "espere um pouco porque já assinei um recibo devem estar quase a pagar-me"
É importantíssimo, sim! E então no estado! fj
Também acho, FJ, quando me dizem que não tem importância, fico bem irritada. No estado é ainda mais grave e sobretudo porque serve de exemplo!!!
Mas há muitas coisas que o estado faz na base de que "é uma pessoa de bem" e portanto não precisa de garantias como os outros intervenientes. Por exemplo o seguro dos carros. Qualquer carro para poder circular tem de ter seguro, é a lei. A não ser que seja uma viatura do Estado! Para esses não há seguro.(ou não havia, no meu tempo)
Também tiveste essa experiência, Joaninha? E não é irritante???
Enviar um comentário