sexta-feira, 24 de março de 2017

Lugares comuns para todos os gostos

Nestes últimos dias houve alguma agitação pela frase daquele senhor de nome difícil de pronunciar, [Dijsselbloem, o dobro de consoantes para o número de vogais! ] frase profundamente infeliz, fosse como fosse. Pronto, como justificação lá se explicava que aquilo tinha sido dito durante uma entrevista, num certo contexto, e ele até tinha usado a primeira pessoa «eu não posso gastar o meu dinheiro todo em aguardente e mulheres e pedir de seguida a sua ajuda». Mas era no encadeamento sobre os países do norte da Europa que se tinham mostrado solidários para os países em crise... Lá fica 'a justificação' estragada!
Bem, foi interessante porque Portugal e Espanha e imagino que também a Grécia, não gostaram nada da "metáfora". Grosseiro, arrogante, preconceituoso.
Sobre este tema disse-se muita coisa, alguma com imensa graça, mas tenho de citar o texto mais inteligente que sobre isso li escrito pela Maria José Trigoso no seu facebook
«mas não haverá quem perceba que o Jeroen é apenas mais um triste luterano ou um infeliz calvinista (ou uma desbotada vitima de qualquer outra reforma), muito branco, muito funcionário, totalmente roído pela inveja do que ele imagina seja o paraíso moçárabe? a terra quente onde o sexo não é pecado mas festa, o vinho corre das torneiras, doce e vermelho, e o sol doura a pele do corpo e ilumina a mente?
eu por mim tenho pena dele. mas também de nós pelo pouco que nos resta dessa escondida fantasia protestante, branca, e masculina.»
 
Fica arrumado numa penada. Os lugares comuns que correspondem às diversas fantasias quando se classifica um povo ou uma raça generalizando!
Encontrei depois esta imagem que também considerei excelente. Vejam:


É apanhada aqui grande parte daquilo que «se arruma» em caixinhas sobre as características dos cidadãos da Europa. E sempre assim foi, olhar, crítica ou paternalisticamente, quem não está no Primeiro Mundo muitas vezes com pena mas aceitando que-a-culpa-é-deles. Aos anos que os desenhos animados tipo Walt Disney representam «o mexicano» a dormir a sesta encostado a um muro, com um enorme chapéu na cabeça. A imagem da preguiça. Preguiça pobrezinha, claro, se estivesse estirado à beira de uma piscina com um copo na mão não seria  preguiçoso nem mexicano. E a imagem de «estar à sombra da bananeira» também não corresponde aos povos diligentes e trabalhadores, as bananeiras são tropicais, não é? Aliás o «dormir à sombra de uma árvore» só se imagina no sul. Já pensaram em dormir à sombra de um ácer? Ou mesmo de um abeto? Ná, não dá, a bananeira ou o chaparro no Alentejo, sim. Preguiçosos, claro, as cigarras que não têm nada para comer no Inverno por sua culpa.
E como erradicar estes estereótipos quando mesmo quem é apanhado por isso, colabora muitas vezes?! Quando se aponta o dedo, uns aos outros, aceitando  estas classificações, ou devolvendo com outras igualmente parvas?
Talvez com o tempo lá se chegue...
Mas está a demorar!


Cereja

3 comentários:

méri disse...

Pois é, as generalizações são perigosas e abusivas.
Sempre penso que quem as faz tem pouco mundo - não só poucas viagens - pouca leitura, pouco conhecimento dos outros e do mundo, enfim pouquíssima cultura.
Depois opinam sobre tudo e todos de forma leviana, acham isto e mais aquilo - são mais achadores que verdadeiros opinadores, para opinar com verdade e honestidade é necessária muita sabedoria e alguma humildade qualidades cada vez mais raras.
Acho que já desabafei um bocadinho, :)
uma beijoca aqui do Porto

cereja disse...

Tal e qual.
É o absurdo das generalizações. Sente-se bem quando focam a nossa profissão (ou de um familiar) porque quase sempre é a desdenhar: «os» arquitectos são assim, «os» funcionários são assim, «os» educadores são assim, «os» psiquiatras são assim, «os» advogados são assim.... Não há profissão que escape.
A não ser a de quem fala!
Beijinhos, amiga. Diz quando vieres cá abaixo :)))

méri disse...

Direi, com certeza. e será talvez em breve, antes da páscoa, mas ainda não sei-
beijinhos