O preço é coisa importante.
Dizemos «apreciar» como sinónimo de gostar. Prezar é demonstrar apreço, consideração, estimar. E não deverá (ou deveria) estar tão associado a dinheiro! Afinal 'o preço' de uma coisa pode não ser em dinheiro se «a coisa» não for um objecto, não é verdade?
Bem, mas o mais corriqueiro é pensar-se em valor comercial, e portanto o preço é o dinheiro que se tem de pagar para possuir seja o que for. E, nessa linha de pensamento, há a mania de pensar que quanto mais caro algo é, melhor será a sua qualidade. Temos o aforismo de «o barato sai caro» significando que quando se paga pouco a qualidade é sempre tão má que fizemos um disparate.
Aliás é geral a desconfiança, qualquer coisa que nos pareça muito barata, não pode ser de boa qualidade...
E também há o contrário, o ser aos nossos olhos tão absurdamente caro que imaginamos estar enganados! Recordo a risota que foi quando o marido de uma amiga perguntou o preço de um relógio e perante a resposta, murmurou, sinceramente: «Aaah...! É de ouro?» Não, não estava a fazer-se engraçado, acreditava que só podia ser de ouro. Aliás hoje em dia também dou por mim a imaginar que propriedades maravilhosas terão alguns produtos para custarem o que custam.
Mas também há a convicção de que para-ser-bom-tem-de-ser-caro.
Ontem fui a uma farmácia. Enquanto esperava ser atendida prestei atenção à conversa que se travava ao balcão entre uma cliente e quem a atendia. A cliente, vestida de um modo muito modesto e que tudo indicava ter bastantes dificuldades económicas pretendia determinado remédio. Levava uma indicação, que imaginei ser uma receita, apesar de eu não ver bem. A farmacêutica estava-lhe a explicar que existia um genérico daquele mesmo medicamento, com a mesma composição. A cliente mostrava-se desconfiada... Eu apurei o ouvido quando percebi que o valor do medicamento era de 22 € e olhei para a cara da senhora que estava muito pensativa. E o genérico? Ah, o genérico custava 3 €. Tal e qual! Quando eu pensava que a questão estaria resolvida, oiço que a cliente decide rejeitar o genérico porque era tão barato que não podia fazer o mesmo que o outro.
Ainda houve uma discreta tentativa de esclarecimento sobre a composição do genérico mas a cliente saiu com o remédio de marca no saco. E de certo ia fazer-lhe bem, porque a parte psicológica é muito forte.
Cereja
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