Sou uma pessoa pacífica.
Relativamente, claro. Tenho as minhas fúrias, indignações,
raivas. Aliás sei bem que demoro a explodir mas quando tal acontece é com
bastante intensidade, reconheço. Violência física nunca a usei na vida (talvez
em criança tivesse puxado uns cabelos, e dado alguns pontapés a outros
meninos...) e quanto à violência verbal tenho muita contenção.
Mas sei que cada um de nós é diferente, felizmente, e não
espero nem gostaria que toda a gente seguisse este modelo. Tenho amigos e
amigas de língua bem solta, e que perdem a cabeça verbalmente com alguma
facilidade. Normal e até pode ser engraçado.
Mas quando o discurso é público a repercussão é diferente.
Hoje toda a gente é encorajada a dizer o que pensa. Para
além dos opiniadores convidados que crescem que nem cogumelos por todo o lado,
existem os semi-anónimos que telefonam para os fóruns da rádio ou escrevem
comentários nos jornais on-line (chamo semi-anónimos porque dão um nome, mas só
se sabe isso) e todos desejam deixar a sua marca própria, o que é natural.
O que me deixa desconfortável é que, embora sempre assim
tenha sido, hoje a moda das imagens/metáforas bélicas ou violentas é demasiado
generalizada.
Nos últimos dias não há discurso que não fale em "rolar
cabeças" desde os bancos, à justiça, educação, futebol, eu sei lá! Quase
se imagina uma sinistra pista de bowling onde as bolas são cabeças humanas. A
gente sabe que a expressão nasceu no tempo das execuções com guilhotina mas num
ano onde as decapitações foram faladas por motivos tão horrorosos talvez fosse
de ter um pouco mais de cautela nas metáforas.
E é constantemente que nos chegam metáforas com base em
guerra ou violência. Alguém "dispara" uma pergunta, o público é
"bombardeado" com desinformação, naquela discussão houve um
"tiro certeiro", para além da resposta que foi "um murro no
estômago"...
Há muito mais, claro, estas foram as que me ocorreram sem me
esforçar nada.
É certo que 'imagens' violentas é um degrau que subimos em
relação há violência directa. Mas não seria tempo de procurar outras metáforas?
Elas existem, já feitas, com base em fenómenos naturais por exemplo, mas
passaram um pouco de moda. O que-está-a-dar é a violência provocada pelo homem.
E lá vão rolando cabeças....
Cereja
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