quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A violência na linguagem

Sou uma pessoa pacífica.
Relativamente, claro. Tenho as minhas fúrias, indignações, raivas. Aliás sei bem que demoro a explodir mas quando tal acontece é com bastante intensidade, reconheço. Violência física nunca a usei na vida (talvez em criança tivesse puxado uns cabelos, e dado alguns pontapés a outros meninos...) e quanto à violência verbal tenho muita contenção.
Mas sei que cada um de nós é diferente, felizmente, e não espero nem gostaria que toda a gente seguisse este modelo. Tenho amigos e amigas de língua bem solta, e que perdem a cabeça verbalmente com alguma facilidade. Normal e até pode ser engraçado.
Mas quando o discurso é público a repercussão é diferente.
Hoje toda a gente é encorajada a dizer o que pensa. Para além dos opiniadores convidados que crescem que nem cogumelos por todo o lado, existem os semi-anónimos que telefonam para os fóruns da rádio ou escrevem comentários nos jornais on-line (chamo semi-anónimos porque dão um nome, mas só se sabe isso) e todos desejam deixar a sua marca própria, o que é natural.
O que me deixa desconfortável é que, embora sempre assim tenha sido, hoje a moda das imagens/metáforas bélicas ou violentas é demasiado generalizada.
Nos últimos dias não há discurso que não fale em "rolar cabeças" desde os bancos, à justiça, educação, futebol, eu sei lá! Quase se imagina uma sinistra pista de bowling onde as bolas são cabeças humanas. A gente sabe que a expressão nasceu no tempo das execuções com guilhotina mas num ano onde as decapitações foram faladas por motivos tão horrorosos talvez fosse de ter um pouco mais de cautela nas metáforas.
E é constantemente que nos chegam metáforas com base em guerra ou violência. Alguém "dispara" uma pergunta, o público é "bombardeado" com desinformação, naquela discussão houve um "tiro certeiro", para além da resposta que foi "um murro no estômago"...
Há muito mais, claro, estas foram as que me ocorreram sem me esforçar nada.
É certo que 'imagens' violentas é um degrau que subimos em relação há violência directa. Mas não seria tempo de procurar outras metáforas? Elas existem, já feitas, com base em fenómenos naturais por exemplo, mas passaram um pouco de moda. O que-está-a-dar é a violência provocada pelo homem.
E lá vão rolando cabeças....


Cereja

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