sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Não se lhe chama corrupção

Se há assunto sobre o qual toda a gente tenha opinião é sobre os gastos com a Função Pública e qual a responsabilidade desse factor na actual crise financeira. Com violentos ataques e violentas defesas. E, na enorme maioria dos casos, ouvindo apenas aquilo que lhes soa melhor ou generalizando a partir de dois ou três casos que conhece de perto. Mesmo quem trabalha ou tem familiares que trabalham no sector público, usa esse método da generalização do todo a partir do muito particular que conhece.
Primeiro dizia-se que em Portugal existia um número exageradíssimo de gente a trabalhar para a Função Pública,  o que não é verdade como sabemos. Mas esse pressuposto já há muito tempo que leva a que as saídas do activo por força da idade não sejam compensadas por entradas que refresquem o quadro de trabalhadores. Já há uns 10 anos que quem sai não é substituído o que decerto que emagrece esse "grande volume" de trabalhadores. Agora, esquecendo como começou a crise financeira porque já passou algum tempo e a memória é curta, a mensagem que circula é que "esta crise resulta dum Estado Social insustentável que levou a défices e dívidas públicas incontroláveis"
E muita gente engole o isco, o anzol, e linha e até a cana....
Que o Estado gasta muito dinheiro com salários...? Hummm... Talvez. Mas não com quem fez toda a tarimba e carreira percorrendo as diversas letras do quadro. Pois é, vejam o enxame de assessores xptl que atafulham os gabinetes de Ministros e Secretários de Estado. E não, não são bons técnicos que tivessem sido destacados do seu serviço habitual para aquelas funções, vêm do sector privado, alguns deles jovens com o canudo acabado de imprimir e que são considerados "especialistas". São verbas impressionantes.
E depois há a prestação de serviços por empresas privadas, nunca entendi a que título. As grandes firmas de advogados que dão pareceres com custos milionários. Mas porquê?! Não era natural que isso fosse observado internamente? Técnicos ou de finanças, ou de transportes, ou de saúde, ou de gestão, ou... a quem se pede pareceres sobre o funcionamento de sectores do Estado. Nunca entendi isso e acho até achincalhante, vir uma entidade de fóra e talvez com interesses privados, dar uma opinião - e porque não chamar pessoas de outra área dentro da função pública?
E, este sistema abre as portas a compadrios e corrupção, como é natural. Nos últimos dias soube-se da demissão de uma chefe de gabinete de um ministro dona de uma empresa escolhida para assessoria (por acaso noutro ministério)  onde receberia 74 mil euros. É um caso. Mas esse conflito de interesses a que nem sempre se chama corrupção, está sempre a acontecer. 
E aí sim, aí é uma sangria de dinheiro que o Estado gasta e mal gasto. 

Cereja
 

2 comentários:

Joaninha disse...

Os links dão muito jeito :))
Claro que é assim, mas é sabido que a maioria das pessoas "emprenha de ouvido" e dá como verdade coisas que não são e por vezes nunca foram!!! Imagina-se o funcionário público como o manga de alpaca, tacanho, autoritário, e preguiçoso.
Mas a função pública é bem mais do que as senhoras dos guichets, isso é mesmo apenas a ponta visível do iceberg. para além da saúde e educação que fornece talvez o grosso dos números da função pública.... ;)

cereja disse...

Aborrece-me essa coisa de se medir tudo "por baixo". Evidentemente que como em qualquer profissão encontra-se trabalhadores péssimos, incompetentes, mal educados, etc. E, para mim, o que é péssimo é sobretudo nunca ter havido um arrumação inteligente destes trabalhadores. Há locais com imensa falta de gente e outros onde estão claramente a mais. Mas a responsabilidade é da chefia e de quem organiza os serviços. Aliás hoje cada vez se vê menos esses sítios onde estão a mais!