sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Até sempre!

Por todo o Mundo, toda a comunicação social, todas as redes sociais, toda a gente em suma, fala hoje de Nelson Mandela. Finalmente uma maravilhosa unanimidade num tema positivo - uma vida que marcou a diferença no mundo.
Este Homem veio mostrar que afinal o que se julgaria um sonho é possível.
O Luther King teve um também, e muito lutou por ele mas não chegou a vê-lo realizar-se.
Mandela também lutou imenso, e ele sim, conseguiu viver até ver o seu sonho.
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Nos anos 50 vivi em Moçambique. Ali, paredes meias com a África do Sul. Assisti ao violento racismo dos afrikanders. Nojento, revoltante. Quando à saída do comboio já se era seleccionado, nós devíamos  passar por uma porta que dizia "white" e todos os outros pela que dizia "non white". E essa porta de entrada nesse mundo de profunda segregação era também simbólica, entrava-se num inferno onde a mistura era proibida e punida. E a arrogância era tal que se varria para o mesmo monte tudo o que não fosse branco, com 4 avós brancos. Negro, indiano, chinês, e todos os possíveis cruzamentos, iam para a mesma porta.
O que depois queria dizer para um mundo diferente.Transportes diferentes, escolas diferentes, cinemas diferentes, jardins diferentes, bairros diferentes (claro!!!) hospitais diferentes, lojas diferentes. Bom, escuso de dizer que a diferença era para pior, claro!
Nesses anos, era muito nova mas acreditava no que ouvia os meus pais dizerem: um dia aquele sistema vai rebentar e num banho de sangue. Era o corolário óbvio: impossível viver-se tanto tempo debaixo de um tal desprezo sem que a tampa da raiva salte com enorme violência.
E afinal os milagres acontecem.
A força e o carisma deste homem conseguiram-no. 
Madiba, o líder incontestável com a sua grande força, aguentou aquela gente e o país renasceu.
Merece tudo o que dizem dele.
Merece o respeito e admiração de todo o Mundo.
Como escreveu um amigo no facebook:
 "Adeus Madiba, até um dia destes!"


Cereja

4 comentários:

Filipe Guterres disse...

Considero que O momento da minha carreira foi o jantar que, por minha iniciativa, a comunidade portuguesa da província do Cabo ofereceu a Mandela , muito antes de qualquer outra comunidade não-negra na África do Sul. ainda hoje vejo as minhas mãos como as mãos que, muitas vezes desde então, cumprimentaram o Madiba.

cereja disse...

Este comentário do Filipe foi escrito no meu facebook, mas passei-o para aqui porque é o seu lugar.
Parabéns Filipe. Não é 40 anos depois, na hora da sua morte que ele deve ser elogiado e apoiado, era nessa altura. Excelente!

Lucília Guterres disse...

Chegámos a Cape Town em 1990, alguns meses depois da sua libertação e lá vivemos 5 anos.
Fomos espectadores privilegiados de todo um processo que eu nunca pensei pudesse ser tão pacífico. Foi-o graças a Mandela. A sua capacidade de perdoar e pôr à frente da raiva que certamente tinha, o interesse do país foram exemplares. E únicas, parece-me.
Se nada mais a minha passagem pela África do Sul me tivesse deixado, o privilégio de ter conhecido a única pessoa por quem tinha e tenho uma admiração ilimitada, seria "prémio" suficiente.

cereja disse...

Fiz o mesmo ao comentário da Lucília do facebook. Aqui é o seu lugar.
Obrigada aos dois pelos seus comentários.