sexta-feira, 8 de abril de 2011

As iludências aparudem....

Aqui há uns tempos aconteceu-me um acidente parvo. Durante uma pane na electricidade aqui no meu bairro, pane muito demorada, tropecei no escuro na minha sala e dei uma queda que me deixou uma estranha nódoa negra. Qualquer pessoa que cai leva instintivamente as mãos à frente, portanto «aquela» nódoa negra era ‘esquisita’... Como me doía bastante, no dia seguinte fui ao Centro de Saúde que me recambiou para o hospital para fazer uma radiografia. Mas quer no Centro de Saúde quer no Hospital as pessoas que me atenderam para além de condoídas, talvez mais do que a lesão justificava, insistiam muito: «Caiu?! Mas como?.... Que estranho. A senhora esteja à vontade, o que nos disser é confidencial. Tem a certeza de que caiu?» o que me fazia oscilar entre a vontade de rir e a satisfação de verificar que estes serviços estavam mesmo bem atentos às situações de violência doméstica. Ainda bem.
Ora ontem, aconteceu-me um acidente ainda mais caricato. :)
Decidi desmontar uma daquelas molas que se colocam nas portas para as manter fechadas. Aquilo estava numa porta que era pouco utilizada e eu precisava de uma uma mola daquelas noutro lado e não queria gastar dinheiro. Não estive de modas, muito enérgica e despachada, avanço de chave de parafusos em punho. Era tarefa fácil. Eu sou um tanto convencida, mas a verdade é que me consigo desembaraçar bem nas pequenas bricolages domésticas e aquilo para mim era canja!
E era. Desde que eu não fosse estupidamente pôr a cara em frente da trajectória da dita mola, que mostrou a sua energia e valor saltando com uma força que nem me passava pela ideia e atingindo-me entre o nariz e o olho. Ao receber a pancada pensei «parti o nariz»! e corri a mergulhar a cara em água fria. Depois experimentei a ver se via, se o olho não tinha sido atingido. Estava ok. Uff... Já me podia punir e chamar-me 50 vezes palerma!
Mas, estão a imaginar a continuação? Fiquei, naturalmente, com este lado da cara inchado e negro e agora não me cruzo com ninguém na rua que não me olhe com comiseração, espelhando bem na cara «Tadinha! Sempre há para aí uns tipos muito brutos!...

Pé-de-Cereja 

6 comentários:

meri disse...

Olha que tu!!! Bem podias ter arranjado um sarilho daqueles... Vê lá se aprendes.
É, agora, mais natural que as pessoas estejam mais atentas e ainda bem.Como dizes as iludências aparudem - sabes que este trocadilho é, desde sempre, muito usado cá por casa??? :)

cereja disse...

:)
Mas o meu filho, com surpresa minha, nunca tinha reparado! Quando leu ficou a pensar que eu estava maluca!.... :)
E, como disse com muita sinceridade, se achei graça à ideia que se tem quando me vêem assim de olho-ao-peito, por outro lado é bom sinal, de que já não se encolhe os ombros pensando 'entre marido e mulher não metas a colher' como ainda há uns anos se pensava... Haja Deus!

cereja disse...

Não fui clara: o meu filho nunca tinha prestado atenção ao trocadilho de «as iludências aparudem». De resto passou-se também uma cena muito cómica:
Quando chegou a casa, apareci-lhe e disse de brincadeira «Olha, a F. -a fada do lar - e eu começámos a discutir e ela deu-me um chapadão que fiquei assim» mas como disse isto com um ar sério, ele olhou para ela, olhou para mim, voltou a olhar para ela com a expressão de quem pensa « A minha rica mãezinha?!! Ai que eu vou-me a ela e também lhe deixo um olho negro!»
Acabou com uma enorme gargalhada!

Mary disse...

Realmente que já te «conhece» há anos, acredita completamente que, completamente distraída, te deixes ficar à frente de uma mola dessas!!!!
Francamente!
E, como disse a Méri, podia ter sido muito mais grave, tiveste uma sorte do caraças.... Em qualquer sítio do corpo é já doloroso, mas na cara, ui, ui... :(
Por acaso há anos que não ouvia a expressão de que as 'iludências aparudem' mas sorri porque dantes dizia bastante. Quero eu dizer, quando vinha a propósito, é claro :)

Mary disse...

Esqueci-me de referir o mais importante: a sensibilização que já começa a existir para as cenas de violência doméstica (a verdadeira, não a das molas da porta)
Infelizmente ainda não chega. É ver a quantidade de mulheres mortas por companheiros, namorados, maridos, em cenas assustadoras e reveladoras de uma péssima saúde mental. Criaturas que não suportam uma rejeição, e se vingam da maneira mais cruel.

cereja disse...

Ehehehe! Eu nesta «nova edição» do Cerejas, se perdi parte dos comentários para compensar tenho comentários a dobrar...

Obrigada, Mary.
Realmente a parte mais importante aqui era mesmo, não meu nariz quase partido mas sim a importância que a sociedade já dá à violência doméstica.
(Sempre embirrei com a classificação de 'doméstica', seria melhor dentro de casa ou qualquer coisa assim; doméstico associa-se a qualquer coisa de suave)