Não vou escrever mais nada sobre o Brasil. É o último (talvez penúltimo) post a respeito destas estranhas eleições que tanta confusão me fizeram pelo modo como se processaram. Não apenas o receio do que se vai passar no Brasil, que elege um candidato cujas «promessas eleitorais» são assustadoras, que usa uma linguagem desbragada, e que apesar disso (ou por isso?) se pode gabar de ter ganho com uma maioria impressionante. O que me assusta e faz reflectir é o caminho que a política vai seguindo quando a sociedade aceita que se jogue este jogo com armas reconhecidamente desonestas.
Começou com o Trump, cuja eleição se sabe que foi influenciada por estudos feitos à massa eleitoral, por empresas especializadas em analizar o que os eleitores queriam ouvir, e em denegrir a oposição. Fossem russos ou britânicos ou americanos, tanto faz, está provado. E quando Trump tomou os seus desejos por realidade, a realidade foi manipulada para estar de acordo com o que ele dizia. Era uma realidade alternativa (!!!) com notícias alternativas, eram 'fake' mas notícias. E isso resultou. Foi eleito e, contra a esperança de muitos, anda a cumprir as suas incríveis promessas eleitorais.
O Brasil é outra coisa. É outro mundo. Por feitio, os brasileiros são muito mais apaixonados, exagerados nas suas emoções. Ouvi ontem uma repórter brasileira falar em 'clima de claque' nos festejos e de facto assim parecia, parecia a final de um derby de futebol. E, como a experiência trumpena resultou só restava utilizar a mesma fórmula melhorada. Foi o que fizeram. Jogando em força nas redes sociais - Trump usa o twitter, Bolsonaro o whatsapp. Mais maquiavélico, porque twitter é aberto, permite respostas, a outra rede, privada, não. Portanto o truque rasteiro foi a) recusar todos os debates, não responder a nenhuma pergunta, mas b) espalhar as mais incríveis mentiras que ficaram sem desmentido. Mentiras graves, gravíssimas!
Enquanto em Portugal já nos irritamos por ver uma montagem onde uma líder de um partido de esquerda ostenta um relógio que valeria milhões, ou dizer-se de um presidente de câmara que utilizaria para lucro pessoal uma residência oficial, nunca se imagina afirmar que o adversário quer legalizar a pedofilia, distribuiu nas creches biberons em feitio de pénis, ou escreveu um manual para promover relações sexuais entre pais e filhos... Ou acusá-lo de violação de uma menina de 11 anos! Parece osonho pesadelo de um louco obsecado por questões sexuais. Mas resultou.
E ficamos de boca aberta ao ver a alegria genuina de tanta gente que entre risos dá a mesma resposta, repetida vezes e vezes e vezes «Vai mudar! Votei na mudança!» Não discutiam se o candidato era bom ou mau, o que os deixava felicíssimos era que iam mudar. Que bom!
O raciocínio é fácil: a vida estava má, tem de mudar. E portanto seja qual for a mudança é óptimo. Ouvi muitos apoiantes por aqui, que se recusavam completamente ouvir fosse o que fosse de crítica ao seu candidato, «é mentira!» era a resposta. E ponto final. Até na tv, Jaime Nogueira Pinto ria-se de algumas afirmações, explicando «são coisas que se dizem no calor de uma discussão, estão fóra do contexto» encerrando a questão.
Quanto tempo irá levar a alguns daqueles risos tão alegres desaparecerem? E a primeira notícia que anunciou ter sido sobre a venda de armas vai agradar a Trump e parece simbólica...
Cereja
Enquanto em Portugal já nos irritamos por ver uma montagem onde uma líder de um partido de esquerda ostenta um relógio que valeria milhões, ou dizer-se de um presidente de câmara que utilizaria para lucro pessoal uma residência oficial, nunca se imagina afirmar que o adversário quer legalizar a pedofilia, distribuiu nas creches biberons em feitio de pénis, ou escreveu um manual para promover relações sexuais entre pais e filhos... Ou acusá-lo de violação de uma menina de 11 anos! Parece o
E ficamos de boca aberta ao ver a alegria genuina de tanta gente que entre risos dá a mesma resposta, repetida vezes e vezes e vezes «Vai mudar! Votei na mudança!» Não discutiam se o candidato era bom ou mau, o que os deixava felicíssimos era que iam mudar. Que bom!
O raciocínio é fácil: a vida estava má, tem de mudar. E portanto seja qual for a mudança é óptimo. Ouvi muitos apoiantes por aqui, que se recusavam completamente ouvir fosse o que fosse de crítica ao seu candidato, «é mentira!» era a resposta. E ponto final. Até na tv, Jaime Nogueira Pinto ria-se de algumas afirmações, explicando «são coisas que se dizem no calor de uma discussão, estão fóra do contexto» encerrando a questão.
Quanto tempo irá levar a alguns daqueles risos tão alegres desaparecerem? E a primeira notícia que anunciou ter sido sobre a venda de armas vai agradar a Trump e parece simbólica...
Cereja