Estamos no rescaldo de umas eleições legislativas muito importantes. São sempre muito importantes este tipo de eleições, mas, se possível, estas foram ainda mais do que as outras. Estamos a viver uma crise económica (e não só) com reflexos em diversos valores com um custo brutal nas nossas vidas.
O resultado apurado nas urnas foi surpreendente.
A opinião pública tinha sido inundada por demasiada «informação» (?) que por ser demasiada e muito suspeita, era de imediato desacreditada. A ideia das sondagens diárias massacrou as pessoas e lançou grandes dúvidas sobre o rigor das mesmas. Hmmmm...?! não-pode-ser-verdade! era o que mais se ouvia. O maior palpite era que iria aumentar muito a abstenção, contudo durante o dia até parecia que ela teria diminuído. Contudo na própria noite eleitoral sentiu-se um terramoto - as sondagens diziam verdade!!! As primeiras notícias, as 'projecções', estarreceram os eleitores de esquerda! Sugeriu-se que os partidos do governo, os dois juntos é certo, estavam prestes a atingir a famosa maioria absoluta. Como era possível?!
Mais do que nunca olhando para o mapa de Portugal se via uma linha dividindo-o ao meio: o norte laranja, o sul vermelho. E a mancha vermelha do sul podia explicar como tanta gente que por aqui vivia nem conseguia admitir o resultado das urnas porque o que viam à sua volta dizia-lhes o contrário. E o que se via na tv é que os lideres do PAF quando apareciam em público tinham de ser protegidos da agressividade popular, e os outros pelo contrário eram vitoriados ou vistos com simpatia. Muito bem, a verdade é que na hora do voto a coisa foi bem diferente.
Em conversas que fui tendo com amigos, uma coisa foi muito sublinhada: a opinião pública é manipulável de um modo impressionante! No caso dos grandes partidos quem ganhou ou perdeu foi quem fez um melhor marketing. E o PS aí falhou completamente, tendo inclusivamente mudado de director de marketing depois do «caso dos cartazes» onde se esqueceram de explicar aos figurantes que o eram... E outros diversos 'tiros-no-pé' que naturalmente eram muito sublinhados pelos adversários. Pelo contrário a PAF teve um marketing muito bem feito, e viu-se pelo resultado.
Ora nas diversas conversas com os meus amigos uma coisa era frequentemente sublinhada, as propostas ou não-propostas de programa feitos pelos diversos partidos, o ter chegado a público ou não aquilo que os economistas dos partidos propunham. E eu ia pensando para mim "vocês podem ter razão, mas quem é que lê os programas e as propostas, e os entende?». Há uma classe de pessoas politicamente informadas e que têm esse cuidado, mas a esmagadora maioria dos eleitores não os lê nem os compreende. Simples. Ou seja, dá para entrar em força as máquinas partidárias com fortes jactos de contra-informação, e quem domina os meios de comunicação nem precisa de se esforçar muito. A receita é fácil e simples: repetir até à exaustão e bem embrulhada a ideia que se quer passar, seja ou não uma rematada mentira. Analisar e discutir seriamente as propostas não é preciso nem convém.
Há 40 anos, nos primeiros passinhos da democracia, usou-se um modelo, a «sessão de esclarecimento». Foi muito troçada, porque havia quem considerasse que o MFA ou as forças que organizavam essas sessões tinham uma visão demasiado de esquerda. Mas o modelo era correcto: levar aos clubes de bairro, às organizações locais, às aldeias, às freguesias, o debate em pequeno grupo. Muitas das pessoas que ouvem as 'análises' (?!) dos comentadores da tv, num tom paternalista e superior, teriam vantagens em ouvir outras opiniões e mostrar as suas dúvidas. Ora isso só em pequeno grupo.
Mas o tempo é das 'máquinas', partidárias ou não a máquina é distante e não-humana.
Não a podemos vencer?
Cereja
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