domingo, 13 de setembro de 2015

« Este pais não é para velhos»

Digamos que no caso de Portugal o país ainda é menos para velhos, porque para novos também não é. Mas se os novos ainda fogem, o que pode fazer quem chega à velhice nesta nossa terra?
Disseram os jornais que Portugal é o terceiro pior país da Europa Ocidental a assegurar o bem-estar social e económico das pessoas com 60 ou mais anos de idade Alguém ficou muito admirado? Parece que temos ainda Malta e Grécia atrás (interessante confirmar que foram os países mais fustigados pela troika), mas como caiu 3 lugares desde 2013 pode imaginar-se que com mais dois aninhos ainda chegamos ao primeiro lugar a contar do fim!
Neste relatório, que acredito seja isento, diz-se que «cerca de 20 mil idosos vivem em 3.000 lares ilegais e [...] 39 mil vivem sozinhos ou isolados». Não refere aqui que o valor que se paga num 'lar' é completamente exorbitante para o rendimento de alguém que não seja rico, o que explica que muitas famílias estejam a retirar os idosos, não por serem lá maltratados (espero que não sejam) mas por não poderem pagar a mensalidade. Ultrapassa em muito uma reforma razoável...
Mas para os que vivem sozinhos, e ali fala-se em isolados, a vida é um pesadelo. 
Nestes últimos dias tenho contactado com um casal que vive na aldeia onde passo férias. Casal sem filhos, mas que vive no coração do povoado, rodeado de vizinhos por todos os lados. Têm 89 e 90 anos. A casa é deles mas precisam de pagar a electricidade, água, gás, telefone, televisão, e a reforma é de 400 €. Pelo que percebi devem ter ainda algumas poupanças que vão gastando agora para as contas da farmácia e serviços de saúde de que se queixam amargamente (não há transportes e para os bombeiros, de que são sócios, os levarem a uma consulta pagam 40 €) e quando falo com eles sinto-os desesperados. Com cataratas os dois e ele além disso com glaucoma; ela só ouve, um pouco, de um ouvido e ele também não ouve lá muito bem; ele quase não consegue usar as mãos, muito deformadas; têm os dois pacemaker, e ele um tumor cerebral não maligno. Eram pessoas muito independentes, e estão agora sujeitas à boa vontade dos vizinhos que muitas vezes mostram grande impaciência... porque têm também uma vida difícil.
Este casal não tem filhos, têm uns sobrinhos que não os vêm há anos e anos. A solidão que sentem é impressionante. De início considerei que a senhora estava com uma grande depressão pelo desinteresse que mostrava por tudo, mas após uns dias já tinha dúvidas do apressado diagnóstico - com grandes cataratas e meio surda nem a tv a interessava, o que é natural, e visitas não tem nenhumas.
Um caso 'modelo' do que não devia existir num país de 1º mundo que tivesse uma rede de apoio social.
Esse país, definitivamente, não é Portugal.


 Cereja





2 comentários:

méri disse...

É isso mesmo. Nem para novos nem para velhos.Mete dó tudo o que se vai vendo à nossa volta. Só não vê quem não quer mesmo ver. O que se passou neste país nestes miseráveis 4 anos nunca será para esquecer pois vamos senti-los no pêlo por muitos e longos anos!

cereja disse...

O caso que refiro é verdadeiro, e corta o coração. Mas o que mais doi é saber que não é UM caso, são muitos, muitos, muitos. Disse que era o modelo do que se passa, porque achei isso. A aldeia onde vivem não tem transportes, as pessoas saudáveis vão a pé à vila mais próxima se for preciso e este casal até tinha um carrito. Contudo, devido aos problemas de visão tiraram-lhe a carta e fizeram muito bem, mas... não ficaram com nenhum outro apoio. Até para ir ao Centro de Saúde ou ao Banco receber a pensão têm de pedir auxílio aos vizinhos, e sobretudo ela que é um tanto orgulhosa fica desesperada. Os medicamentos de que precisam são caríssimos, e tem de ter uma requisição especial.
E os lares são incrivelmente caros. Mesmo vendendo a casinha que têm nãodava para muitos anos.