segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Rabugices

Ando há uns tempos a remoer em relação a uma atitude ou um modo de pensar ou como se lhe queira chamar. Refiro-me ao modo como se encara, pelo menos na actual sociedade ocidental, a corpulência das pessoas. 
Quando eu era criança o modelo físico desejado tinha alguma margem de tolerância. Não era considerado bonito uma pessoa demasiada anafada, nem o que se chamava trinca-espinhas, mas a faixa do que era 'normal' era bastante larga. Aliás o ter-se um bocado mais de peso não era assim muito mau, tanto que o eufemismo que se usava (e ainda se usa) é ser-se "forte" confundindo-se propositadamente músculo com gordura. 
Com a alteração de hábitos, quer alimentares quer sociais, as pessoas começaram a engordar. Nasceu a obesidade como doença, coisa que embora sempre tivesse existido era ainda rara em meados do século passado, mas hoje é uma justa preocupação, basta olhar à nossa volta. 
Mas a atitude que me incomoda é a perspectiva onde a generalidade das pessoas se coloca, não num ângulo de prevenção e sim de tratamento. O que é frequente é ouvir isto faz emagrecer em vez de isto faz bem à saúde ou seja o conselho dominante é "emagreça" em lugar de "não se deixe engordar demais". 
Tenho a sensação de que está tudo errado. Alimentação errada, é claro. Mas isso vem de bebé porque o excesso de doces e gorduras em vez de um-pouco-de-tudo como seria sensato, é aprendida ainda mal se sabe andar. E exercício natural a menos, também. O paradoxo é que como as distâncias que temos agora de percorrer são muito maiores, habituamos-nos a usar um transporte sempre até mesmo para distâncias que se fazia a pé dantes sem se pensar duas vezes. Quando eu era criança quase não havia ginásios mas a vida diária era um constante 'exercício físico'... 
E a minha rabugice nasce de estar farta destes contrastes: por um lado o bombardeamento com a imagem ideal, o homem ou mulher perfeitos, que nos aparecem por todo o lado como modelos a atingir. E, depois de ter tornado as pessoas descontentes com a sua imagem, a insistência naquilo que as "faz emagrecer". Mas não. O importante, acho eu,  é saber não engordar que é coisa diferente. 
Mal comparado é como deixar as pessoas viciarem-se em tabaco à vontade, e depois massacrá-las com técnicas para deixar de fumar e avisos dos seus malefícios nos maços de cigarros...






Cereja

5 comentários:

fj disse...

No fundo acho que há uma certa má vontade quanto ao que faz emagrecer. É mais uma forma de não engordar,ainda que a expressão não seja feliz.fj

cereja disse...

Mas é isso que eu quero dizer.
Se calhar só se emagrece não comendo de todo, mas isso não pode ser questão a ponderar... :)
E que mal há eu se ter um corpo "normal"? Até se fazem empréstimos para cirurgias estéticas e o raio! Uma maluquice como outra qualquer.

cereja disse...

Aliás o padrão de beleza feminina tem mudado bastante, ainda durante a minha vida. Quando era nova o modelo o peito igual à anca com a cintura o mais fininha possível. Assim como as actrizes italianas, na América a Marilyn Monroe. Agora o modelo vem da América e quase se resume a seios grandes. Alguns desmesurados! As ancas são discretas, e da cintura nem se fala... É mesmo diferente!

méri disse...

Estou contigo nesta rabugisse!
Também acho que se anda muito pouco.Nós iamos e vinhamos a pé para a escola e liceu e mesmo quando andei na faculdade em Lisboa fazia caminhadas imensas para poupar o bilhete de autocarro.
Felizmente as minhas netas duas vivem no campo e outra está em Amsterdam e como não têm carro ou é a pé ou de bicicleta! Se calhar é a avó que anda menos afinal!
Conheces alguma criança que não goste de batatas fritas? tenho uma neta que não gosta - o que nos nossos dias me espanta!
mas que testamento isto ficou!mas sabes estou a ficar um bocado cansada dos likes do facebook....:) xi-coração

cereja disse...

Pois é Méri, eu também venho para aqui escrever quando o quero fazer com alguma calma, ali é tudo muito rápido, demasiado rápido!
O andar a pé era um prazer quando já era mais crescida, e quando era pequenina nem pensava ir de outra maneira a muitos sítios. Na família não havia carro (aliás quando vemos fotos de Lisboa nesses anos, quase não há carros) e era natural andar-se a pé! Havia poucos elevadores nas casas. Carregava-se com pesos porque as alcofas de ir à Praça não tinham rodinhas :) e lembro-me do meu pai e a minha mãe com pastas cheias de livros pesados... Os músculos eram exercitados diariamente.