Frustração. É uma palavra desagradável para uma emoção negativa. Refere-se a um sentimento misto de tristeza e raiva por não se conseguir algo que se deseja. Falamos muito disso actualmente, não era noção que eu ouvisse muito em criança nem o lemos com frequência em romances do século passado, mesmo se o sentimento em si é tão antigo como o homem! A vida, e sobretudo a vida em sociedade implica frustração. A vida em grupo implica um 'toma-lá-dá-cá' e o "dá cá" nem sempre acontece como e quando se deseja.
O resistir convenientemente à frustração aprende-se e é difícil.
E essa lacuna, o não ensinar desde muito pequeno como se resiste à frustração, é dos erros mais graves que os jovens pais podem cometer. A imensa ternura que sentem por aquele pedacinho de gente que depende tanto deles, faz com que lhes adivinhem os desejos e os satisfaçam de imediato. Há desejos que são também necessidades, sono, fralda limpa, fome, e devem ser resolvidos com brevidade. Mas esforçar-se por chegar a um brinquedo, ou esperar um pouco por que lhe peguem ao colo, só faz bem à criança, acreditem. Assim como encontrar por si mesmo soluções para o que quer: agarra a fralda ou o peluche para adormecer sozinho e isso aumenta a sua autonomia. Mas muitos pais vêm um serzinho tão frágil, que facilitam tudo. "Vai ter tempo de sofrer, quando for crescido!" é o pensamento. E vai-se evitando tudo o que o posso frustrar, à menor ameaça de beicinho tudo se resolve.
Erro grave. O que não se aprende em pequeno é muito mais difícil de aprender mais tarde. A intolerância às pequenas frustrações vai ser uma bola de neve, aumenta com a idade de um modo assustador, vamos ver uma criança sempre zangada, um adolescente insuportável, uns jovens a quem nada satisfaz.
Claro que a sociedade tem culpa. Há multinacionais de brinquedos, de roupas, de móveis para crianças. E que se esforçam por vender. São mesmo especialistas no assunto com técnicos que sabem bem como se faz: um brinquedo engraçado que a criança deseja, a mãe dá, mas no dia seguinte aparece outro e a criança quer o novo, e no dia seguinte lança-se um diferente, e o mecanismo cria o seu monstro - o importante não é brincar com o brinquedo é a chegada de um novo! Quem não conhece estes casos? A exigência constante, mais, mais, mais, a birra, a chantagem, e a escalada que se segue.
Vemos crianças destas constantemente. Que querem (exigem!) um bolo e depois de uma dentada displicente o deitam fóra. Que querem sempre outra coisa daquilo que lhes é oferecido - um passeio se lhe propõem cinema, o campo lhe lhes oferecem praia, ficar em casa em vez do zoo... Querem mostrar que elas é que decidem.
E num tom e postura de completa arrogância, o que se lê é "quem manda sou eu!» frase que até às vezes dizem com convicção. Frequentemente funciona a chantagem "não gosto de ti!" ou "só gosto se me deres o chocolate!" e incrivelmente o esquema funciona. Conheço crianças que antes de dar um beijo à mãe quando chegam ao pé dela, vão à carteira ver o que lhes trouxe. E outras que ao ver uma prenda protestam "isto?! mas que porcaria!". São meninos mal-educados? Pois são. E são sobretudo crianças infelizes, que não dominam a frustração, e que vão tornar quem com elas convive também infeliz.
Cuidado!
Cereja