Todos, ou quase todos os que vivemos em sociedade temos a noção do que é nosso e o que não o é porque é doutra pessoa. Claro que não é coisa inata. Em bebé vemos uma coisa bonita, que nos agrada e estendemos a mão. E ainda de colo, ouvimos "Não, não! Não mexe! Não é seu!!!" e à custa de uns tantos ralhetes e decepções lá se vai aprendendo que não nos podemos apoderar de tudo o que gostamos. É assim que a sociedade funciona.
Claro que os limites são muitas vezes mal definidos como é sabido, sobretudo quando para além do conceito do "meu" e "teu" aparece outro chamado "nosso". Porque há coisas que são por natureza "nossas" no meu entender.
Vou há dezenas de anos para uma aldeiazinha na zona de Sintra. Fica num sítio elevado e
chega-se lá por caminhos com muitas curvas e em muitos locais não podem passar dois
carros ao mesmo tempo. Coisa primitiva. As terras que ladeiam esses caminhos
tinham uns muros baixinhos que até serviam para nos sentarmos quando se estava
cansado por um longo passeio a pé. E assim se fazia muitas vezes, para apreciar
a paisagem que se estendia a perder de vista, até ao mar no horizonte. Um
consolo, aquela vista.
Já há uns anos, depois de uma ausência um pouco maior, ao chegar fiquei siderada: a lindíssima estrada estava irreconhecível porque os muros tinham subido mais de um metro e meio. Os terrenos ficaram mais protegidos, sem dúvida, mas os passeantes perderam a visão que justificava aqueles longos passeios. Aqueles muros até me tiravam o ar, num local onde sempre senti que respirava melhor…
Ontem, decidi dar um outro passeio na mesma zona. Também há muito tempo não subia ali, porque a subida é um tanto íngreme, mas recordava que no alto dessa estrada que nem tem saída, havia um largo pequenino também com uma vista soberba. Vou subindo, devagarinho a saborear o prazer que ia ter lá no alto. Cheguei e repetia aparvalhada para os meus amigos “Não acredito! Eu não acredito!!” porque por cima do muro que ainda se notava pelas suas pedras toscas, tinham construído outro, e só alguém bem alto, em bicos dos pés conseguiria ver alguma coisa da paisagem.
Ora a questão é: afinal de quem é a beleza da paisagem? Não se discute a propriedade do terreno. Plantem-lhe couves, árvores, construam até uma casa. Mas um muro como aquele?!
Já há uns anos, depois de uma ausência um pouco maior, ao chegar fiquei siderada: a lindíssima estrada estava irreconhecível porque os muros tinham subido mais de um metro e meio. Os terrenos ficaram mais protegidos, sem dúvida, mas os passeantes perderam a visão que justificava aqueles longos passeios. Aqueles muros até me tiravam o ar, num local onde sempre senti que respirava melhor…
Ontem, decidi dar um outro passeio na mesma zona. Também há muito tempo não subia ali, porque a subida é um tanto íngreme, mas recordava que no alto dessa estrada que nem tem saída, havia um largo pequenino também com uma vista soberba. Vou subindo, devagarinho a saborear o prazer que ia ter lá no alto. Cheguei e repetia aparvalhada para os meus amigos “Não acredito! Eu não acredito!!” porque por cima do muro que ainda se notava pelas suas pedras toscas, tinham construído outro, e só alguém bem alto, em bicos dos pés conseguiria ver alguma coisa da paisagem.
Ora a questão é: afinal de quem é a beleza da paisagem? Não se discute a propriedade do terreno. Plantem-lhe couves, árvores, construam até uma casa. Mas um muro como aquele?!
Não. Aquilo é roubar, é tirar para gozo próprio uma coisa que é
património comum: a beleza de uma paisagem!
Pé-de-Cereja
5 comentários:
Faz-nos pensar...
Concordo com a tua irritação, mas a vista de um local é um bem comum?...
Eu cá não sei, Zorro.
Confesso que me sinto irritada quando constroem um prédio alto em frente de uma casa que tinha vista, mas vou aceitando, só prejudica as pessoas de um prédio e se assim não fosse não havia urbanizações.
Mas naquele caso não estão a construir nadinha. Para vedar o acesso podiam pôr redes ou grades se não queriam o antigo muro baixinho. Assim é uma afronta.
Olha, Zorro, para mim é realmente um bem comum! Se os donos dessa terra semeassem rosas como é que faziam para que o perfume não chegasse aos passeantes??!
Talvez os proprietários se tenham fartado de hóspedes indesejáveis...
É uma hipótese, Lucília, mas nesse caso porque não redes ou grades? Um "ladrão a sério" também salta aquele muro...
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