quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Violência descontrolada

Quem vive em Portugal não pode desconhecer o que se passou quando da manifestação em S. Bento, no fim da greve geral. A comunicação social encheu-se de reportagens, entrevistas, depoimentos, opiniões. Para além disso houve pessoas que não estiveram na manifestação mas conhecem quem tivesse estado, e têm um relato em primeira mão.
Eu, desta vez, vi a coisa de sofá. A TV e a net iam dando informações e eu via com intermitência, não estive sempre ligada, tive outras ocupações. Ou seja, a primeira imagem em que reparei para além do desfile, foi de montras com grafittis e uma caixa multibanco queimada. "Mas que parvoíce!" disse na altura "o que é que se ganha com vandalismo?" Quando voltei a ligar, tempo depois vi imagens de chamas altas e muita agitação. Fiquei inquieta. O que era aquilo?! Sei que comentei para o lado "Mas que grande estupidez! Não conseguem controlar aqueles anormais?!!" e senti-me indignada e revoltada contra quem estava a provocar aquela situação.
Nas imagens seguintes começo a ver pessoas a correr e umas figuras vestidas à Datth Vader galopando atrás com uns bastões nas mãos que descarregavam em cima delas até mesmo quando caídas no chão. Aí, de um golpe, a minha indignação inverteu-se e a raiva passou a ser contra aqueles agressores.Hoje, encontro no Expresso a visão do Daniel Oliveira (com quem ultimamente tenho concordado muito) Pois é, Daniel. Depois, no mesmo jornal, aparece a opinião do Henrique Monteiro que eu já não assinaria mas contêm muita coisa correcta. E isto tudo faz-me pensar:

A sociedade moderna não aceita castigos corporais. Não aceita a tortura. Não aceita a pena de morte. Quando um cidadão se porta mal e infringe a lei, a justiça retira-lhe a liberdade isso é o castigo. A polícia tem como fim proteger a sociedade, quando alguém comete um crime é detido e levado para a prisão. E faz sentido que, se o presumível delinquente se debate para evitar a prisão, se use a força para o imobilizar e para isso a polícia tem as suas técnicas de luta.
Ora o que se viu foi a polícia castigar com castigos corporais, no momento, quem considera como delinquente. Isso é INADMISSÍVEL. Mesmo um criminoso do pior não é punido em público em Portugal, só em terras da Charia e até ali só depois do julgamento. Ontem, em frente ao parlamento foi dada a ordem de dispersar, e como se pode confirmar a multidão estava a dispersar tanto assim que tinham de correr atrás dela. Quem fugia estava exactamente a obedecer a essa ordem. E então era agredida com a violência que se viu??? Apanhava por fugir, e também apanharia se não fugisse... Mas nem é só isso que me indigna, é em nome de que lei um cidadão-fardado pode impunemente agredir um cidadão-não-fardado? Os não-fardados que atiraram as pedras cometeram um crime que devia ser castigado, punido com cadeia. E os outros...?
Olhando o descontrolo alucinado daqueles polícias fico a pensar o que terão tomado, bebido ou fumado. Aquilo não era natural.





Pé-de-Cereja


7 comentários:

sem-nick disse...

Estou tal e qual como tu.
Comecei indignado com aqueles parvalhões ( e ainda estou!) mas às tantas estava escandalizado era com a actuação da polícia!
Estiveram mais de uma hora a "aquecer" para depois partirem para aquilo?! deviam ter intervindo assim que começaram as agressões a mais nada!

José Palmeiro disse...

Pois é, minha amiga, ontem quando me indignei sobre o que estava a ver e os execráveis comentários que a SIC Notícias transmitia, era esta a visão que eu tinha sobre o assunto.
Ainda não tinha lido o artigo do Daniel e, é óbvio, concordo inteiramente com o que diz. É doloroso para quem está a centenas de quilómetros, sentado no remanso do seu sofá, ver o descambar de um dia de luta que tinha sido exemplar.
Gostei muito do teu escrito e espero que a lição seja apreendida por TODOS!!!

Hipatia disse...

Horas a apanhar com pedras e petardos em cima, Emiele. Horas de contenção, sem escape. Rebentou? Pois rebentou. Não era exactamente isso que os imbecis com as pedras queriam? Por mais que queiram culpar os polícias que estavam nas escadarias de S. Bento, não consigo: os polícias também são homens e, durante horas, tiveram que conter a própria revolta, a própria raiva. Já os que andaram a dar na cabeça do pessoal a quilómetros de distância, já acho que tens razão: passou de explosão a manifestação abjecta de poder. Mas, na verdade, quem foi que atirou a primeira pedra?

fj disse...

Resta saber se entre os provocadores não havia muitos policias, que é o que me parece...fj

cereja disse...

Olá a todos!
FJ - Dizem que havia. Que esses de quem se suspeitava até abandonaram os lugares pouco antes de "os colegas" avançarem ainda antes de aviso. Mas os tais que andaram a vandalizar e a atirar as pedras eram ainda mais do que uns polícias provocadores... era gente ou estúpida ou mal intencionada.
Zé Palmeiro - realmente no facebook quando te respondi não tinha visto nada da carga, por isso estava só revoltada com os atiradores de pedras.
Hipatia, (olá amiga! ainda nos vamos encontrando, soube bem ler o Emiele...)As pedras foram atiradas pesse o simbolismo por uns tipos que desejavam mesmo isto. Continuo a não entender como é que a polícia esteve 'à espera' tanto tempo. Acho que uma ou duas já era o suficiente para prenderem o tipo ou tipos e acabar com a brincadeira. Mas o que me contaram, (e até um familiar de 79 anos que lá estava sentado num muro e teve de ser socorrido pelas bastonadas que apanhou) é que não foi só contra os que estavam a provocar e eram bem identificáveis porque até estavam mais ou menos isolados, foi contra toda a gente que fugia a gritar. Que os arruaceiros deviam ser presos nem ponho isso em dúvida, mas continuo a achar que não se devia bater nunca. É um princípio.

johnny disse...

E isto já é péssimo mas o pior nos tempos que correm em plena democracia (?) é muita gente ter sido presa e durante várias horas não puderem falar com os seus advogados e nem sequer terem sido informados do que é que eram acusados. :(

cereja disse...

Tens toda a razão, Jonhny! Essa é outra faceta. Eu sou das que considera que eles têm de ser castigados e perceberem que o vandalismo é mau e a agressão pior.
Mas que tudo se passe como se deve passar num país civilizado, do 1º mundo!