Quando eu era jovenzinha adorava ler ficção científica.
Tinha toda a
colecção argonauta, desde o primeiro volume! Aliás em ficção científica (e não só) sempre preferi ler a ver as mesmas histórias em cinema. Não sei porquê, o
futuro em cinema é sempre escuro e deprimente. Em romances não, conheço alguns bem optimistas, onde se fala de sociedades, distantes é claro, quer no espaço quer no tempo, onde a vida é mais justa e mais fácil. Tão bom.
É, aliás, muito interessante ler algumas histórias escritas nos anos 50 ou 60 em que o futuro é muuuito distante, lá para o remoto ano
2.000 ou 2001, onde a vida é tão diferente e pode ser tão boa. Não se imaginou nada do que se passa hoje, mas fantasiou-se outras coisas muito interessantes.
E muitas vezes são histórias com robots, é claro. Não esquecer os robots.
Ora estes pensamentos estas recordações vieram porque vou sentindo cada vez mais que os seres humanos estão a ser substituídos por robots. Não, não, claro que não são robots em forma de gente, são 'apenas' máquinas, mas vem dar ao mesmo. Quando eu era mais nova ao comprar o que precisava para o dia a dia, ia à mercearia, ao lugar de hortaliça, ao talho. Conversava com quem estava ao balcão que me pesava um quilo de arroz, ia buscar um molho de agriões, ou cortava 4 costeletas. Faziam as contas num papelinho, muitas vezes com a prova dos nove ao lado, recebiam o dinheiro, davam o troco. Havia calor humano, mesmo que demorasse algum tempo a ser atendida. Anos depois abriu um super (hiper?) mercado e era muito engraçado, íamos buscar às prateleiras aquilo que se queria, já pesado e embrulhado, e pagava-se tudo no final à pessoa que estava sentada à caixa registadora. Atendia-se muito mais gente em menos tempo e apenas com um empregado. Achei prático e até gostei.
Quando comecei a trabalhar, uma vez por mês ia ao meu serviço um senhor com uma pasta e muitos envelopes e pagava-nos o ordenado. Eu pegava naquele envelope e ia a correr ao banco depositar o dinheiro. Uns anos depois pediram-me o número da contra e passei a ter o dinheiro lá depositado no dia do pagamento. Muito bom, mais seguro e prático. Gostei.
Para comprar gasolina para o carro, ia até a uma bomba e o senhor que lá estava tratava desse fornecimento, mexia lá numas torneiras, metia a gasolina no depósito e nós pagávamos-lhe. Uns anos mais tarde aprendi, e afinal era fácil, pegar na mangueira indicada e vigiar os litros que iam entrando, depois era só ir à caixa pagar.
Quando precisava de almoçar fóra de casa sentava-me a uma mesa, o empregado mostrava o menu, escolhia, traziam-me o prato, comia, pagava e saía. Tempos mais tarde apareceram uns locais onde só se precisava de pegar num tabuleiro, seguir junto a um balcão e tirar os pratos que se quisesse e no final pagar na caixa. Mais rápido e prático.
O gás, água, electricidade, vinha todos os meses um empregado à nossa casa que contava o que se tinha gasto e recebia o que devíamos do mês anterior. Perca de tempo. É claro que a contagem podemos fazê-la nós e o pagamento pode ser electrónico, ou até automático.
Tudo isto se foi dando quase sem se dar conta, com pezinhos de lã... Mas foi crescendo e alastrando. No supermercado, os artigos que ainda têm de ser pesados, já se podem pesar nas caixas. Ou, melhor ainda, nalguns deles somos nós, os compradores que fazemos tudo: pomos no saco, pesamos, colamos a etiqueta com o preço, e vamos pagar à caixa, e temos até já a variante de ser o consumidor que passa o códigos de barras no leitor, espera pelo total, faz o pagamento na máquina e vai-se embora... Que tal? Mais uma vez, prático.
.......................
A verdade é que com este 'truque', fazer com que sejam os consumidores a trabalhar para si próprios, consegue-se maior rapidez sem dúvida, e... poupa-se imenso nos salários! Deixou de haver atendimento por seres humanos, servimo-nos a nós mesmos e a relação que temos é apenas com máquinas que não adoecem, não têm emoções, não têm problemas familiares. Se há algum engano a culpa é nossa, não é? as máquinas não se enganam.
É um clássico afinal - os robots ou os humanos manipuladores, vão expulsando para a marginalidade do desemprego os humanos excedentários.
Nesses romances que eu lia costumava haver um herói.
Onde está?