quinta-feira, 8 de setembro de 2016

«Gostas mais do papá ou da mamã?»

Quando há uns dias escrevi aqui  Os modernos Salomões prometi que voltava ao assunto, que me preocupa muito e está muito longe de se ter dito sobre ele o necessário.
Nós hoje casamo-nos menos e divorciamo-nos mais. Mas, devido a uma grande alteração de conceitos - e ainda bem! - uma criança nasce sempre legalmente com pai e mãe sendo os dois igualmente responsáveis por ela, seja a ligação registada oficialmente ou não. Portanto a maior rapidez com que se casa e descasa, ou nos juntamos e separamos, não influencia a ligação legal mas influencia muito, imenso, a ligação psicológica.
Tenho a convicção por aquilo que vou sabendo, que grande parte dos pais tem cuidado quando comunica aos filhos a separação. Quase sempre explicam-lhes que a questão não tem nada a ver com eles e os amam da mesma maneira.
Mas vamos saltar vários patamares do que se passa nestas separações, inevitavelmente dolorosas, e chegar já aos Tribunais de Família que vão decidir a «regulação do poder paternal».  (uma nota, será que a palavra Poder, não é sugestiva?) Bem, essa regulação no papel parece sensata. No caso dos pais já não se darem lá muito bem, a custódia partilhada diz que a criança fica a viver com um deles e decidirão em conjunto as questões de educação, saúde, ou deslocações ao estrangeiro. Sensato. Assim como é sensato que o progenitor com quem a criança reside facilite os contactos com o outro.
Bem, mais um passo, para se chegar ao ponto importante que é um desentendimento entre os pais. É normal, não é? Estão a lutar por um Poder e muito zangados um com o outro. O Tribunal (advogados, assistentes sociais, juízes, procuradores, imensa gente) intervem. Além de ameaçar os pais como referi nos Modernos Salomões, vai ouvir a criança, o que não é má ideia. Mas o que é «ouvir»? Ser conduzida a uma estrutura assustadora que é um tribunal, onde numa salinha alegre (?) alguém, estranho para ela, lhe vai fazer perguntas sobre os seus afectos?
A pergunta idiota que se fazia a brincar «Gostas mais do papá ou da mamã?» foi há muitos anos considerada um modelo do que nunca se devia dizer, brincadeiras à parte. Do ponto de vista da psicologia é uma violência, um mau trato, uma agressão psicológica. Mas que a Justiça (?) faz constantemente. Quando uma criança pequena é interrogada, sabendo que do que disser pode estar a escolher viver com um dos pais, é gravíssimo.
Mas faz-se.
E depois de feito não se pode «apagar», não há borracha que apague uma recordação dessas, é trauma que a acompanhará toda a vida. Mas quem manda é o Tribunal e terá de ser obedecido a bem ou a mal. Isto acontece constantemente.
S.O.S.


Cereja

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Apenas um «trágico acontecimento»?!

Li ontem de manhã, e creio ter sido também apresentado na TV, um trágico acontecimento, a morte de um rapaz de 20 anos. Aconteceu. 
O modo como é apresentado é o de são coisas que acontecem porque sofreu um «golpe de calor».
Não simpatizo, nunca simpatizei, e nunca simpatizarei com instituições militares. Tenho este feitio, e talvez por isso não seja perfeitamente isenta. Mas enquanto o governo fala em 'momento de dor e sofrimento' e fala em apurar responsabilidades, o exército declara que «apesar da morte de um militar e de um outro ter ficado ferido no Domingo os treinos vão continuar embora adaptados ao tempo quente que está previsto para hoje». Porque, pelo que se vê, os treinos não estavam adaptados ao tempo quente que estava previsto para ontem (?!)
Estamos em guerra? Iremos ser atacados por inimigos externos? A independência de Portugal está em perigo? (não, não estou a pensar na ingerência de Bruxelas) A nossa Defesa está em alerta? Deve ser segredo porque não consta nada disso. Sabe-se que há treinos militares, em situações onde a desidratação é possível, dois rapazes são apanhados por essa onda de calor brutal e um acaba por morrer mesmo na enfermaria. Como é que foi assistido na enfermaria? Tantas dúvidas com que se fica!
Mas o chocante é a continuação dos treinos, a frieza da declaração que li. Como se a queixa de calor fosse uma pieguice, e aqueles rapazes devem ser resistentes a tudo portanto vamos lá continuar os treinos sem mariquices nem queixinhas.
Já disse que não gosto da tropa?


Cereja


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Negócios...


Como seria de esperar, nesta luta guerra das editoras, li agora a resposta da APEL à medida do governo sobre os manuais gratuitos.

Há dias tinha lido no mesmo Público um artigo confirmando o que parecia óbvio sobre o negócio dos manuais escolares e analisando as últimas decisões do governo sobre esta matéria dizia que «o negócio dos materiais escolares está a abanar». Parece que sim. Dizia lá que «isto significa três coisas a) no ano lectivo de 2017/18 vão ser vendidos menos livros b) as editoras têm boas razões para estar preocupadas e c) finalmente há uma medida oficial para tentar mudar as coisas e dar o primeiro passo no sentido da reutilização dos manuais uma coisa boa para a bolsa dos portugueses e para a sustentabilidade do planeta.»

A Saúde e a Educação são duas pedras básicas numa sociedade que se preocupa com os seus cidadãos mais desfavorecidos. E quem luta contra as desigualdades sociais, choca-se sempre ao perceber que duas necessidades desta importância para a sociedade podem ser também uns brutos negócios. Quanto à Saúde tem-se uma ideia do que são as máfias das empresas farmacêuticas, e no campo da Educação, embora com outra dimensão, temos os interesses das editoras. Naturalmente que quer farmacêuticas, quer editoras, tem interesses legítimos. Mas...
[Um parêntesis: embirro com a frase eu não sou ****, mas porque a seguir ao 'mas' aparece o que se considera a excepção ]
Eu não sou saudosista, ponto final. Cada coisa no seu tempo, vivemos o presente, sonhamos o futuro, recordamos o passado. E quando se recorda o passado podemos aprender algo. A minha geração cresceu num regime totalitário, e no ensino usava-se o «livro único», era o ensino censurado. Mau, claro está. Os professores só podiam ensinar aquilo que o governo queria, a vigilância era total. E, claro, o livro era para ler, e os cadernos para escrever. Aliás até havia uns cadernos de papel mais grosseiro chamado papel de sebenta para fazer rascunhos, porque tudo se poupava naquele tempo. E como os-livros-eram-para-ler iam passando de mão em mão para serem utilizados.
Depois de Abril a metodologia do ensino foi também revolucionada. E passou-se de há uns anos para cá a usar uma coisa hibrida entre o livro e o caderno. Trazia os textos que explicavam a matéria e no final uns exercícios para avaliar se tinha sido compreendida. Era apelativo, teve sucesso e até parecia que se poupava um caderno. Mas evidentemente que aquele manual só serve para uma vez. E as editoras, que passavam momentos difíceis durante o resto do ano, tinham ali uma galinha de ovos de ouro inesgotável: ganhavam em Setembro/Outubro de cada ano tanto quanto ganhariam no resto de todo o ano.
O complicado é que isto vai ser uma guerra com muitas batalhas, os professores devem estudar técnicas de ensino para além destas do manual/caderno, as editoras vão ter de repensar as suas estratégias, e os alunos e famílias aceitarem que reutilizar é bom. Quando leio que por lei estes manuais devem durar 6 anos, nos países nórdicos onde são grátis, a duração vai até 10 anos, vê-se que não é possível que sejam livros/cadernos como cá, porque no 2º ano já não servem...
Mas isto é mudança de mentalidades em muitas áreas, e não será fácil. Sobretudo as editoras não vão ceder sem luta, o que quereriam decerto é que tudo ficasse na mesma com o Estado a pagar os manuais... Ah pois!




Cereja

sábado, 3 de setembro de 2016

Os modernos Salomões

Salomão ficou famoso para sempre graças ao seu célebre julgamento: perante duas mães que disputavam uma criança como sendo sua filha, mandou cortá-la ao meio e dar metade a cada uma. Uma delas abdicou da «sua metade» e concluiu-se que era a verdadeira mãe e a história acabou em bem. A sentença ficou famosa, não se imaginava que ele mandasse mesmo dividir a criança.
Passaram-se séculos e séculos, e em 1989 foi criada pelas Nações Unidas A Convenção sobre os Direitos da Criança. É um documento muito importante, com 54 artigos que cobrem todas as áreas importantes para a vida de uma criança. No artigo 9 º diz-se que «a criança não é separada dos seus pais contra a vontade destes [....] salvo se as entidades competentes decidirem [....] que essa separação é necessária no superior interesse da criança». Parece lógico, de bom senso até. Só no caso de uma situação gravíssima e  se  procura uma alternativa que não o pai ou a mãe.
Até há uns 100 anos havia a ideia, socialmente aceite, de que os pais eram donos dos seus filhos. Assim como não se metia a colher entre o marido e a mulher também não a metiam entre os pais e os filhos. Hoje parece-nos medieval, incrível, aberrante, e felizmente ninguém já pensa assim. E existe a Convenção que se deve cumprir.
Mas há um fenómeno novo, nas sociedades modernas. Coincidindo com um aumento enorme de separações de casais, os pais hoje disputam violentamente os seus filhos. Por aquilo que vou vendo à minha volta, são uma minoria os casos onde se resolve amigavelmente a partilha dos filhos.
E então os Tribunais de Família decidem. Decidem com um poder absoluto. Não quero generalizar porque, como em tudo, só conhecemos os casos maus, mas... Mas há muitos, demasiados, casos maus. Vejo constantemente pais e mães aterrorizados com a possível decisão do juiz, que os pode ouvir mas decide sem ter de justificar porque tomou essa decisão. (Isto merece mais reflexão, mas fica para outro post)
Mas passa-se em Portugal algo de muito grave.
A Justiça e Segurança Social têm Lares e Instituições de Acolhimento para crianças. Para se ter uma ideia, vivem em Instituições de Acolhimento 8.600 crianças e jovens. Sim, leram bem, oito mil e seiscentas crianças institucionalizadas. Como se pode ler através do link, «são crianças que trazem percursos de vida extremamente traumatizantes e que precisam de um grande apoio para poderem reencontrar o seu equilíbrio».Ou seja, uma criança é orientada para lá em desespero de causa, quando não se vê nenhuma alternativa.
Mas imagine-se que agora é vulgar (?!) nos tribunais de família, quando os pais não se entendem sobre a guarda dos filhos, os juízes declararem «ai é? não se entendem, e nenhum quer ceder? então decido que a criança vai para uma instituição!» Assim portanto a criança é duplamente vítima, é arrancada dos braços da mãe ou do pai com quem vivia o que já é grave, mas não é para ir para uma avó, tia, madrinha, alguém que lhe seja familiar, não, é condenada à cadeia a entrar numa instituição! Uma violência que brada aos céus.

A primeira vez que ouvi falar duma ameaça destas considerei que era um mal entendido, fiquei até irritada com a pessoa que tinha dito, para mim era im-po-ssí-vel. Hoje já sei que eu é que era ingénua, as ameaças e até mesmo a concretização existe.
São os modernos Salomões, ignoram o sofrimento da criança inocente desde que castiguem bem quem não obedece às suas ordens. Revoltante? Mais. Não encontro um bom adjectivo....


Cereja



sexta-feira, 2 de setembro de 2016

As lâmpadas descontinuadas

Li agora a notícia que já tinha ouvido ontem sobre umas lâmpadas que vão ser descontinuadas.
Depois do arrepio que sinto sempre ao ouvir este inútil neologismo (descontinuar?! mas que parvoíce) fico a meditar sobre a notícia. 
Durante a maior parte da minha vida (uma muitíssimo grande parte, aí uns 8 décimos...) vivi com lâmpadas incandescentes. Sabia como eram, a força da luz que davam - 50 velas, 75 velas, 100 velas. Desde criança que sabia que as que tinham menos 'velas' davam uma luz mais fraquinha e gastavam menos electricidade, e também aprendi em criança só se tinha a luz ligada quando era preciso, ao sair de um quarto devia apagá-la.
Mais tarde começaram a aparecer as lâmpadas fluorescentes. Usavam-se em cozinhas ou casas de banho e davam uma luz muito mais branca e fria. Nunca gostei. Parece que gastavam muito menos energia, acredito, mas aquela luz muito fria era-me desagradável, e nunca as usei em casa.
(Cabe agora aqui uma explicação. Gosto imenso de luz, sempre que possível natural. Aceito e respeito quem goste de ambientes de penumbra, que os sintam mais «cozy», mais íntimos e aconchegantes, mas não para mim! Gosto de luz a entrar por grandes janelas, de dia, ou uma casa iluminada por luzes fortes, de noite. Posso usar um candeeiro com uma luz fraquinha, para-dar-ambiente, mas isso entra como decoração, na minha casa usavam-se lâmpadas de 75 velas ou até de 100 velas.)
E há uns anos o mercado foi conquistado completamente pelas lâmpadas de halogéneo. Ná! Detestei. Era, e foi, uma confusão, quer quanto à cor quer quanto à potência. Por um lado a luz era branquíssima, parecia que estávamos na lua, e embora existissem umas com luz mais quente, o comprador comum não as distinguia, por outro quem estava habituado a falar em «velas» não se percebia como era a equivalência... Horrível Ah, e ainda uma coisa irritante, o tempo infindável que levavam a acender completamente. Se entrássemos numa sala só por uns minutos, entrávamos e saíamos e a luz não tinha acabado de acender...
Mas a guerra das lâmpadas parece não ter fim. A UE quer agora «descontinuar» as lâmpadas de halogéneo porque gastam muita energia, os ambientalistas aplaudem e eu também porque não gosto daquilo.
E agora?...Temos as (ou os, não sei o género daquilo...) «LEDs». Parece que é melhor. Gastam menos potência e duram bastante apesar de serem caríssimas. Pelo que tenho visto o seu tipo de luz é ainda fria para o meu gosto. Mas como a «descontinuação» é até acabarem os stocs ainda vai faltar muito até o halogéneo ir à vida e pode ser que entretanto descubram uma simpática e menos cara. Hmmmm.... Wisful thinking!



Cereja